Policial III

Boa tarde meus 23 fiéis leitores e demais 36 de quando em vez, eis-me aqui, retomando a serieta "Policial":

Saiu do quarto a Carmem, a enfermeira. Um espetáculo de enfermeira! Realmente, não morri.

Carmem disse que levei um tiro no peito que me jogou contra o chão e me fez bater forte com a cabeça. Pra me jogar no chão e eu bater com a cabeça, deve ter sido um tiro de 12, de cima, com chumbinho, sem baletão. Baletão o colete não teria segurado. O bandido deve ter achado que eu morri e deu no pé.

Putz, escapei da morte. Tô muito novo ainda pra isso, morrer. Mas seria um morte sem dor, não vi nada. Já vi gente morrendo mal, é uma bosta, Deus me livre. Eu já passei por situações.

Uma vez, ainda guri, quase morri afogado. Só dá o desespero de não poder respirar e de querer sobreviver, mas a gente não pensa em nada na hora. Pelo menos eu não pensei.

Outra vez, a pressão baixou quando eu tava olhando um jogo de futebol, no estádio. A gente vai sentindo frio, a visão turva. Daí não deu medo, a gente vai desligando. Lembro de ter pensado que tava morrendo, lembrei da minha mãe e, antes de apagar, pensei que era ridículo morrer assim, pagando um tremendo mico num jogo de futebol, virar notícia. de repente apaguei. medo, não senti.

A terceira vez eu acho que foi a pressão que subiu, eu tava em casa, com a Priscila, aquela moreninha que eu namorava. Aquele dia me deu muito medo, a sensação foi muito ruim. Eu tava no hospital e tava com uma sensação muito ruim, tipo um terror psicológico. Nem sei porque me deu aquilo, mas, daquela vez, deu.

Na última vez eu estava no banheiro da casa dos meus pais e caiu a pressão de novo. Senti que ia cair, levei a mão na parede, mas não adiantou, desabei no chão. Sofri lapsos de consciência, ligava e desligava. Foi estranho aquilo. Quando chegou a ambulância, sai de maca, com toda a vizinhança olhando. Um mico. Mas nesse dia não senti medo. Até pensei que podeira morrer, mas aquele desconforto físico, aquele horror psicológico, não deu.

Na verdade, acho que tenho medo hoje não da morte, mas do medo da morte, daquela sensação horrível que tive daquela vez. Daquilo eu tenho medo. Agora, por exemplo, nem vi nada. Se tivesse morrido, nem teria sabido.

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Em 2015 talvez eu dê um jeito nisso... Mas acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013.)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 29/05/2015
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