EM CIMA DA MOSQUITA

Interessante como algumas situações permanecem indeléveis em nossas lembranças!

Certa ocasião, quando eu estava na sexta série do primeiro grau, ou seja, com 8 (oito) anos de idade, uma das professoras perguntou a um dos meus coleguinhas que ostentava um velho relógio mecânico de pulso:

___ José Antônio, quantas horas são por favor!

___ São dez horas, professora. Dez horas, na musquita!

___ José Antônio, é muito feio falar gíria. Ainda mais estando em uma sala de aula!

De tão sem graça, o José Antônio, rubro, escorreu-se pela carteira de madeira, que naquela ocasião era de lugares duplos.

Saudades daquela época em que algumas “entidades” eram respeitadas: escolas, professores, igrejas, hospitais, polícia, padres, pai, mãe, irmãos mais velhos, patrimônio público e privado etc.

Talvez a explicação esteja no fato de que, embora com tenra idade, as crianças pobres daquele tempo já tivessem suas responsabilidades e ocupações, como era o caso do José Antônio: ele era carroceiro e, dentre as suas várias tarefas, uma era a de encontrar, cortar e transportar capim em quantidade suficiente para alimentar o seu burro durante todo o dia.

Época essa em que era comum os pais manterem seus filhos com “rédeas curtas” e não hesitarem em aplicar-lhes o “merecido castigo”, dentre os quais e o mais comum, o castigo físico - a surra.

Quase nada vinha pronto, tudo tinha que ser preparado, elaborado a partir da matéria prima, os bens eram duráveis, não havia descartáveis e os produtos e alimentos eram comercializados a granel e in natura, portanto, mais saudáveis, sob o aspecto nutricional.

Pobre ou rico, os laços familiares eram bem estreitos, havia mais religiosidade, as brincadeiras eram todas ao ar livre, com utilização dos recursos abundantes da natureza.

Plagiando a música de Erasmo Carlos: “Proteção desprotege”, as intervenções dos governantes no ceio familiar, por intermédio de leis isoladas, sem os contrapesos necessários, têm deixado pais e mães de mãos atadas, filhos sem limites e condenados a um futuro sem vínculos familiares e sociais.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 28/05/2015
Reeditado em 28/05/2015
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