“O que você faria se não tivesse mais nada a perder?”
Eis uma pergunta que incita várias e afoitas respostas. Parece fácil de concluir: chutaria o balde, mandaria tudo às favas, outros apertariam o botão do “dane-se tudo” (pra não escrever coisa pior) ou então alguns ainda dirão que é preciso pensar com muito cuidado.
Fazendo uma analogia, podemos citar aquela situação em que, acreditando que ganhou uma bolada na loteria, você começa a gastar por conta. Manda o patrão pastar, faz uma festa de arromba, torra uma fortuna no shopping, no bar, na praia; viaja com dinheiro emprestado, pois afinal é um milionário em potencial e quando vai ao banco receber a grana, descobre que conferiu o resultado errado; ou seja, está mais liso que pneu de carro velho. E agora José?
Então há que se ter cuidado antes de fazer e acontecer levado pela (in) certeza de que não há mais nada a perder, que é o fim do jogo, o fundo do poço.
Penso que, independente da situação, nunca TUDO está perdido; sempre há algo mais a se perder. A dignidade, o respeito, o amor próprio, a sanidade são coisas que se vai perdendo gradativamente, de forma dolorosa. Tudo só está definitivamente perdido quando se morre; mesmo assim, nessa esfera terrena. Porque enquanto há vida, há sempre algo a se perder.
Sendo assim, quando se chega nesse estágio de desespero, desesperança, ceticismo, raiva e as atitudes são pautadas nesse cunho fatalista, jogando tudo pro alto já que não há mais nada a perder, está na verdade se caminhando para o arrependimento e para a frustração. Quando passa o efeito efêmero da alma lavada, das contas zeradas, do troco dado, o vazio se torna latente, sendo preenchido apenas pela ressaca moral e pela sensação de inutilidade, porque se continua do mesmo jeito, na mesma situação, com perdas ainda maiores.
Pior, continua-se perdendo, pois a vida segue e a lucidez é extremamente impiedosa e sádica; vai consumindo aos poucos.
Por isso, quem sabe pode-se enxergar toda essa situação de perda por outro prisma.
Já que muito está perdido, talvez seja a hora de ir à luta para se recuperar o que se perdeu ou alguma parte.
E há ainda outro caminho a seguir: sair em busca de novos ganhos, quem sabe até bem mais compensadores, posto que a vida seja feita de perdas e ganhos. Para cada perda há uma contrapartida de ganho, mesmo que tudo indique o contrário.
Pior do que se perder isso ou aquilo, é perder-se de si mesmo.