ALMOÇO EM FAMÍLIA.



   Tudo estava preparado para o almoço em familia, era mês de Maio, o outono estava em pleno vigor, arvores despidas, completamente nuas, adornavam os quintais, era um domingo destes que todos esperam para colocar as conversas em dias , a manhã veio meio preguiçosa , um sol desbotado com aspecto de quem não quer nada com a vida, o pequeno riacho que escorria no fundo da casa sede estava manhoso como menino mimado, silêncioso de dar gosto, um pequeno rochedo destoava gerando um barulhinho manhoso de só ver,
um cão velho dormia no pé da escada, sem da fé de nada, parecia esperar os convidados chegarem para despertar, espiava fixamente um ponto sem nehuma pretensão, parecia alheio ao seu propósito de cachorro, galinhas punham energia nos terreiros , parecia estar de luto ,delas esvaiam um canto mortuário
parecendo chorar varias companheiras depenadas nas gamelas de madeira ,prontas para estrelarem a mesa do almoço, assim a manhã foi crescendo na claridade e nas espectativas.

Na cozinha o fogão a lenha, estava furioso, as labaredas lambiam as panelas com intensa  seriedade, as cozinheiras preparavam a materia prima para o grande evento, a velha matriarca atiçava o fogo e o brasil alastrava,
a conversas giravam em torno do namoro arrastado da jovem Bila com o almofadinha filho de familia metida a rica, gente branca ,desbotada , metida a dominar as letras, filhos da cidade. no terreiro o patriarca ferrava a tropa, aparava as crinas ,dando outra aparencia as bestas, Juvência saia da horta com um cesto de taquara coberto de verduras fresquinhas, folhas que iria enfeitar a farta mesa, o radio de pilha tocava musicas sertanejas, de forma que o sertão era contemplado.

A manhã foi ganhando corpo, o relógio rapava as dez horas, aos poucos os convidados foram chegando, da varanda o patriarca, José Ventura, ia vendo o povaréu apontar lá da volta da estrada, era gente chegando a pé ,outros de charretes, aos poucos o terreiro foi ganhando consistência ,era gente para todo lado, a fazenda ganhava jeito de festa, Ventura recebia os convidados,todos gente de sua confiança, era o compadre Jenaro , serrador de mão cheia, o compadre Zé cabo , bom no eito e na sanfona oito baixos , dona Clotilde, benzedora e raizeira, mulher que devolver a vida a muitas gentes naquelas paragens, compadre Ataliba tropeiro de nome , homem que comprava e como garantia do recebimento dava ao vendedor um fio do seu bigode, Luiz boquinha carreiro de responsa, amigo de longas datas,dona Sirene catecista ,mulher de nome com a comunidade, responsavel pela iniciação de toda a familia na palavra de Deus, a matriarca dona Iracema, feliz da vida, assim o sertão alegra nestas ocasiões.

Num canto da cozinha Bila estava amoada, sem energia para lidar, parecendo que o coração estava pesado ,o semblante carregado, ainda não tinha dado a arrumar-se, olhava o movimento, todos chegando ,menos o povo do  Cassiano. Tá passando mal Bila ? Arguiu o avô Geraldo Brasil que acabará de chegar , Bila meneou a cabeça em sinal de negativa ,levantou-se e foi a varanda,debruçou no parapeito e verteu duas lágrimas, limpou-as com o indicador e volveu a cabeça sobre os braços. Clotildes chegou afagou-lhe os cabelos e começou a tentar arrancar a confissão sobre o modo de tanta dor, mas nada , continuou afirmando que tudo estava bem , sem lograr êxito,retornou a cozinha . A manhã foi arribando ,o sol melhorou a cara,o vento brando foi arredando as nuvens bem devagar , tudo de acordo com o momento. do terreiro  o avô geraldo pontuava o violão e observava a neta
enfiada num agouro de morte. De repente um ronco surdo e continuo rasgou o grotão ,uma cordoeira de poeira ganhou o céu no pontal da volta ,Geraldo olhou para a neta que abria o primeiro sorriso da manhã, aos poucos o azulzinho ganhou o terreiro , a jovem Bila recobrou as energias, desceu a varanda e foi receber a familia do namorado, sorriso e aquela bizarria tomaram conta do rosto da jovem.


 A familia toda se alegrou, afinal nada pior que uma festa pela metade,tristeza é uma coisa que embota a vida, e aquele era um dia de dissolver  na alegria .
 o almoço foi posto a grande mesa, onde todos se acomodaram e comeram a fartar, muita alegria, na sombra do Jequitibá Zé Cabo executava a sanfona acompanhado pelo violão de vô Geraldo, o povo começou a dançar, Bila tinha desabrochado, sorrisos atraz de sorrisos, mal sabia que o ponto maximo da felicidade ainda estava por vir. a matriarca notou Cassiano meio inquieto, sua mãe conversava parecendo esconder alguma coisa, as irmãs cochichavam pelos cantos, pouco entumadas, olhando o lugar de pisar,tudo numa cerimonia só, Luiz carreiro tudo observava, e falava consigo mesmo, povo cheio de me larga me deixa, quero ver essas melequinhas com um balaio de milho na cabeça, abafou um riso com as grossas mãos.a tarde chegou o almofadinha abriu a porta do fusca, ficou um pouco pôs uma musica de gente grauda, e saiu abanando as mãos,subiu as escadas e segundos depois todos foram chamados ao terreiro da cozinha, uma grande curiosidade tomou os convidados,afinal o que seria está reunião aquelas horas,decerto seria para obedecer o pedido da velha Teodorica, que tinha de costume sempre fechar um encontro rezando um mistério do terço, em agradecimento a bondade de Deus por ter concedido aquele momento,
o povo foram aglomerando , e no fundo uma voz acuada, morteira, rompia a multidão , Cassiano pedia a presença dos pais , avós , o burburinho foi geral, o que será? De repente com uma voz falhando , a face pálida, e uma pequenas goticulas de suor brotando na testa , eclode as palavras esperadas, quero a mão de Bila em casamento, todos bateram palmas, e reluzentes alianças ocuparam as mãos dos dois jovens.A tarde foi caindo,e sob musicas e satisfação o almoço foi blindado ,com este momento unico na vida de dois namorados.





 
Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 26/05/2015
Reeditado em 27/05/2015
Código do texto: T5255550
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