André, o Filho de Ilza.

Ilza era feliz com suas duas filhas e não sabia. Alessandra e Ilamar eram mesmo muito lindas. Mas mesmo assim, ela queria porque queria, adotar um menino. Não tivera um filho homem. Era seu sonho de consumo.

Soube que em um vilarejo, aqui bem perto, uma mulher estava com problemas mentais e por isso os parentes, estavam dando o filhinho recém nascido dela. (Isto em 1900 e bolinhas era mesmo possível.)

Ilza, no afã de ser mãe de um menino, correu até lá e aceitou adotar a criança. Muitos tentaram dissuadí-la da idéia, mas ela foi irredutível. Levou o pequeno pra casa e cuidou dele com muito amor.

As meninas, a Alessandra e Ilamar, adotaram o irmãozinho com o mesmo amor. Cuidaram dele com carinho e aprenderam muito na tarefa de cuidar de criança.

Um sábado qualquer, quando o menino ainda era muito novinho, o marido de Ilza morreu de enfarto. Sozinha pra sustentar as crianças, Ilza resolveu trabalhar como servente de escolas para ganhar a vida. Ela não tinha muito estudo. Não havia dinheiro que chegasse. Eram as fraudas do menino, o leite especial para que ele ficasse forte. Sempre doentinho ele apresentou várias viroses.

Deram-lhe o nome de André. Mas para mim deveria ter outro nome: Confusão.

André aprontou de tudo um pouco. Com apenas quatro anos de idade. Ilza ja estava com os cabelos brancos. Com cinco anos de idade, ele fugia de casa sempre que descuidassem dele. Mas não fugia pra esquina como as outras crianças. Entrava nos ônibus atrás de um adulto e quando o trocador do ônibus percebia ele já estava saltando em Vitória, e andara mais de setenta km, sem dinheiro e sem saber sequer onde comer. Muitas vezes Ilza botou a polícia a procurar por ele.

Estas escapulidas para Vitória só pararam quando, com 11 anos de idade, fugiu pra Vitória e lá, sozinho na praia, foi testemunha de um crime. Os bandidos, pra se livrarem dele, o espancaram e enterraram ali mesmo na areia da praia.

Se o caro leitor pensa que aqui termina a história, está enganado. André foi enterrado vivo. Sua sorte foi que Deus não deixa nada escondido. Alguém viu a ação dos bandidos, esperou eles sairem do local e desenterrou o menino. Chamou a ambulância e hospitalizado, André se recuperou logo. A pancada na cabeça que o menino levou dos bandidos, porém, foi muito forte e ele ficou por muito tempo desnorteado e sem se lembrar de nada. Ao se lembrar do nome da mãe os médicos do hospital entraram em contato com a família aqui através da polícia.

Ilza pensava que ele estava morto dessa vez, pois já fazia muito tempo que estava sumido. Quando menos esperava, recebeu a notícia. Foi buscá-lo com o carro da polícia. André não era mais o mesmo. Ficou zuretinha da silva. Mas pelo menos aprendeu a lição. Nunca mais fugiu pra Vitória.

Ilza o ama muito, mas qualquer um no lugar dela pensaria dez vezes em adotar outra criança. Ela é uma super mãe. E quando alguém lhe pergunta se ela se arrependeu, diz que não. Deus é quem sabe das coisas.

Hoje, André não é totalmente normal, mas vive bem. Alguém confiou nele pra vender picolés num carrinho. Ele já está com seus 25 anos de idade. Vende picolés e tem seu dinheirinho. E é muito normal pra gente daqui ouví-lo gritar por aí:

_Olhaaaaaêêêêêêê o piiiicolé do André!!!

Este é um fato verídico, porém foram mudados os nomes originais para preservar a identidade das pessoas envolvidas.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 26/05/2015
Reeditado em 06/03/2017
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