Palavra de Jardineiro
 
Ela abre o portão e ele vai logo dizendo:
— Tô caçano sirviço, dona. A sora tem aí arguma coisa pra fazê?
— E o Senhor faz o quê?
— De tudim, tudim que percisá eu sei fazê...
— Arruma jardim?
— Arrumo! Sei podá arve, cortá grama. E no capricho... num dêxo um matinho.
—Ah, se quiser ... O meu tá precisando muito.
— Eu pego sim...
— Pois então, dê uma olhada no serviço. Vamos combinar o preço.
— Eu sou baratêro, procupa não...
— Sim, mas de qualquer jeito é bom olhar primeiro, pode entrar.
— Hum, tá bem arta a grama, né?
— Tá, tá bem alta. O rapaz que sempre arruma tá de repouso... 
— Ich, coitado!
— Então, por isso que vou contratar o seu serviço, não dá pra esperar.
— Tá certim, vamo oiá...
— Quanto tempo acha que vai gastar?
— Óia, pá podá as arve, cortá a grama, rancá os mato... Uns trêis dia.
— Três dias!? Não é muito?
— A sora acha?
— É que o outro rapaz  sempre faz em meio-dia.
— Ah, então tá, eu tamém faço.
— E o preço?
— Duzentos.
— Duzentos?! Nossa Senhora!
— Tá caro?
— Eu sempre pago cem...
— Então tá, é cem.
— Uai, o senhor muda de ideia depressa...
— Né não, é que num gosto de sê diferente dos ôtro.
— Então, dá pra ser assim?
— Dá, dá demais! Vô ali pegá as ferramenta...

Três dias depois... Tec, tec, tec... Era o jardineiro com um alicatinho cortando  os matinhos no jardim. E ele que disse que só queria ser igual aos outros, mostrou também que era homem de cumprir o seu tempo: três dias! Ela se sentiu na obrigação de pagar os duzentos...