O Amor Sem Violência
Autoritarismo
Qual é o motivo do autoritarismo?
O que os leva a inclinação de ter o controle de tudo e de todos – principalmente sobre os familiares anulando seus sentimentos infringindo-os a humilhação?
Será falta de humildade?
Será que é a insegurança interior que os fazem agir por fora com agressividade enquanto que por dentro se sentem frágeis?
É uma condição de quem se encontra oprimido?
As emoções são as exteriorizações dos sentimentos! Uma pessoa equilibrada sabe administrar construtivamente suas emoções e não são dominadas por elas.
O desequilíbrio é a manifestação de uma forma inesperada de forma agressiva diante de fatos novos os quais são super-valorizados a sua importância -, causando uma reação agressiva.
Por qualquer divergência detonam a carga explosiva, e sem cerimônia mandam tudo para os ares, explodindo aqui e ali, pisando em cima dos outros, manipulando, controlando, dando uma de vítima, ou atacando.
A modificação destes comportamentos é uma resolução pessoal, - “Ninguém muda ninguém”, somente a própria pessoa.
A modificação existirá quando ela não mais insistir na autodefesa -, acusando tudo e todos pelo jeito de ser, não aceitando sua conduta ditatorial -, narcisista, então... Nem Deus dá jeito, porque ela estará fechada para a luz e para a verdade de sua necessária mudança.
Meu abraço
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A seguir:
O Caráter nacional brasileiro. Dante Moreira.
Autoritarismo são tendências contrárias:
Masoquismo do qual o indivíduo se anula diante dos outros, e do sadismo que procura submeter e dominar os outros.
Pelo masoquismo não apenas sofre, mas sobretudo torna-se parte de algo maior e mais forte que ele, uma pessoa, uma intuição, Deus, a Nação.
Pelo sadismo a pessoa domina a outra, torna-se o deus desta última.
Embora até certo ponto contraria as duas tendências tem como elemento comum o abandono do eu; além disso costumam aparecer reunidas de forma que Erich Fromm pode falar como caráter sadomasoquista, ou, para evitar a conotação patológica, caráter autoritário.
A destrutividade como o nome indica é a tendência para eliminar os objeto padrão o que é desejado, mas inacessível.
O conformismo automático, o indivíduo renuncia ao seu eu por uma espécie de hipnose difusa pelo qual aceita os padrões impostos pelos meios de comunicação; em outras, em vez de procurar ser ela mesma, a pessoa procura ser aquilo que os outros esperam que seja.
Dante Moreira.
O Amor Sem Violência
No Verdadeiro Afeto, A União É Total Mas Preserva a Autonomia
Erich Fromm
O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. É a paixão mais fundamental, é a força que conserva juntos a raça humana, clã, a família, a sociedade. O fracasso em realizá-la significa loucura ou destruição - autodestruição ou destruição de outros.
Sem amor, a humanidade não poderia existir um só dia. Contudo, se chamarmos “amor” a realização da união interpessoal, poderemos encontrar-nos em séria dificuldade. A fusão pode ser obtida de diversos modos - e as diferenças não são menos significativas do que aquilo que é comum às várias formas de amor. Devem ser todas chamadas de amor? Ou devemos reservar a palavra “amor” somente para um tipo específico de união, aquele que tem sido a virtude ideal para todas as grandes religiões humanísticas e sistemas filosóficos dos últimos quatro mil anos de história ocidental e oriental.
Como se dá com todas as dificuldades semânticas, a resposta só pode ser arbitrária. O que importa é sabermos de que espécies de união estão falando, quando falamos de amor. Referimo-nos ao amor como à resposta amadurecida ao problema da existência, ou falamos das formas imaturas do amor que podem ser chamadas união simbiótica? Nas páginas seguintes, darei o nome de amor apenas à primeira. Começarei a discussão sobre o “amor” com a última.
A união simbiótica tem seu modelo biológico na relação entre a mãe grávida e o feto. São dois e, contudo, um. Vivem “juntos” (sym-bio-sis), necessitam um do outro. O feto é parte da mãe, recebe dela tudo de que necessita; a mãe é seu mundo, em suma: alimenta-o, protege-o, mas também a própria vida dela é acrescida por ele.
Na união simbiótica psíquica, os dois corpos são independentes, mas a mesma espécie de ligação existe psicologicamente.
A forma passiva da união simbiótica é a da submissão, ou, se usarmos um termo clínico, a domasoquismo. A pessoa masoquista foge ao insuportável sentimento de isolamento e separação tornando-se parte e porção de outra pessoa, que a dirige, guia, protege; que, em suma, é sua vida e seu oxigênio.
O poder daquele a quem alguém se submete é expandido, trate-se de uma pessoa ou de um deus; é tudo, e o submisso nada, exceto naquilo em que é parte dele. Como parte, é parcela da grandeza, da força, da certeza.
A pessoa masoquista não tem de tomar decisões, não precisa assumir quaisquer riscos; nunca está só - mas não é independente; não tem integridade; ainda não nasceu de todo. Num contexto religioso, o objeto da adoração é chamado ídolo; num contexto secular de relações de amor masoquista, o mecanismo essencial, o da idolatria, é o mesmo.
A relação masoquista pode-se misturar com o desejo físico, sexual; neste caso, não é só uma submissão de que participe o espírito de alguém, mas também todo o corpo. Pode haver submissão masoquista ao destino, à enfermidade, à música rítmica, ao estado orgíaco produzido por drogas ou sob transe hipnótico: em todos esses exemplos a pessoa renuncia à sua integridade, torna-se o instrumento de alguém ou de algo fora dela própria; não precisa resolver o problema de viver por meio da atividade produtiva.
A forma ativa da fusão simbiótica é a dominação, ou, para empregar o termo psicológico corresponde ao masoquismo, o sadismo.
A pessoa sadista quer escapar de sua solidão e de sua sensação de encarceramento, fazendo de outra pessoa uma parte, uma parcela de si mesma. Expande-se e valoriza-se incorporando outra pessoa, que a adora.
A pessoa sádica depende tanto da pessoa submissa quanto esta daquela; uma não pode viver sem a outra. A diferença só está em que a pessoa sádica ordena, explora, fere, humilha, e a masoquista é mandada, explorada, ferida, humilhada.
Tal diferença é considerável num sentido realista; num sentido emocional mais profundo, a diferença não é tão grande quanto o que ambas têm em comum: fusão sem integridade. Se compreende isto, também não é surpreendente verificar que normalmente uma pessoa reage tanto da maneira sádica como da masoquista, de modo geral para com objetos diversos.
Hitler reagia primordialmente de maneira sádica para com o povo, mas masoquistamente para com o destino, a história, o “poder mais alto” da natureza. Seu fim - o suicídio em meio à destruição geral - é tão característico quanto o foi seu sonho de sucesso, de dominação total. (Fears of Escape from Freedom, E. Fromm, Londres, Routledge, 1942).
Em contraste com a união simbiótica, o amor amadurecido é união sob a condição de preservar a integridade própria, a própria individualidade.
O amor é uma força ativa no homem; uma força que irrompe pelas paredes que separam o homem de seus semelhantes, que o une aos outros; o amor leva-o a superar o sentimento de isolamento e de separação, permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo, reter sua integridade.
No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres sejam um e, contudo, permaneçam dois.
Ao dizermos que o amor é uma atividade, enfrentamos uma dificuldade que reside na significação ambígua desta palavra. Por “atividade”, no emprego moderno do termo, queremos normalmente referir-nos a uma ação que produz mudança numa situação existente, por meio de gasto de energia.
Assim, um homem é considerado ativo quando faz negócios, estuda medicina, trabalha numa usina, fabrica uma mesa ou dedica a esportes.
Todas essas atividades têm sido em comum: dirigem-se para um alvo exterior a ser alcançado. O que não se leva em conta é a motivação da atividade.
Veja-se, por exemplo, um homem impelido a incessante trabalho por um sentimento de profunda insegurança e solidão; ou outro impulsionado pela ambição, ou pela avidez por dinheiro.
Em todos esses casos a pessoa é escrava de uma paixão, e sua atividade é de fato uma “passividade”, porque ela é impelida; é o paciente, não o “ator”.
De outro lado, alguém que se assente calmo e contemplativo, sem outro alvo que não o de experimentar-se e à sua unidade com o mundo, é considerado como “passivo”, porque não está “fazendo” coisa alguma. E, na verdade, esta atitude de meditação concentrada é a mais alta atividade que existe, uma atividade da alma, só possível sob condições de independência e liberdade interiores.
Um conceito de atividade, o moderno, refere-se ao uso de energia para consecução de metas externas; o outro conceito de atividade refere-se ao uso dos poderes inerentes ao homem, sem que importe a produção de qualquer mudança exterior.
Este último conceito de atividade foi formulado com muita clareza por Spinoza. Diferencia ele os afetos entre ativos e passivos, “ações” e “paixões”.
No exercício de um afeto ativo, o homem é livre, é o senhor de seu afeto; no exercício de um afeto passivo, o homem é impelido, é objeto de motivações de que ele próprio não tem consciência. Assim Spinoza chega à afirmação de que virtude e poder são uma só e a mesma coisa (Spinoza, Ética, IV, Def. 8).
A inveja, o ciúme, a ambição, qualquer espécie de cobiça são paixões; o amor é uma ação, a prática de um poder humano, que só pode ser exercido na liberdade e nunca como resultado de uma compulsão.
Erich Fromm