O doutor
da canção asa-branca
1. O xote "No meu pé de serra" foi a primeira música que Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga fizeram juntos. Esse xote, de um romantismo sertanejo incrível, nasceu em 1945; não no coração do nordeste, mas no escritório do advogado Humberto Teixeira, no coração do Rio de Janeiro.
2. Gonzaga, em dois momentos, conta como tudo aconteceu: "Foi aí que eu, numa auspiciosa tardinha de agosto de 1945, seguindo os conselhos e os rastros de Lauro Maia, risquei em seu terreiro (dele, Humberto) com minha sanfona, meus ritmos, minhas idéias..."
E em outro depoimento, este registrado por Diminique Dreyfus, escrevendo sobre a vida do Rei do baião, o velho Lua disse: "No primeiro encontro com Humberto, em dez minutos, já havíamos escrito a letra de No meu pé de serra."
3. Vale lembrar, a título de informação, quem era Lauro Maia, que fez parte dessa estória. O Lauro, cunhado de Humberto Teixeira, foi um famoso boêmio, compositor, arranjador e instrumentista.
Levou Gonzaga ao cunhado porque, no seu entender, Humberto era o homem certo para ajudar o sanfoneiro, que procurava um parceiro. Humberto, dizia Lauro, além de ser "um excelente letrista" era "um cearense da gema".
Lauro Maia nasceu em Fortaleza no dia 6 de novembro de 1913. Casado com Djanira Teixeira, morreu tuberculoso, em 5 de janeiro de 1950, no Rio de Janeiro.
4. O Brasil conhece, de sobra, as belíssimas músicas, cantando e lembrando o sertão nordestino, deixadas por Humberto Teixeira em parceria com Luiz Gonzaga.
Claro, que entre as mais bonitas está a toada Asa-branca, considerada pela crítica como a Obra-Prima desses dois ícones sagrados da música popular brasileira.
5. Me perdoem os que assim pensam. Mas, outras toadas, xotes e baiões, tão bonitos quanto, a dupla compôs, e estão por aí, até hoje, de boca em boca. Cito, por exemplo, "Assum Preto", "Estrada de Canindé", "Légua Tirana" e o xote "No meu pé de serra".
6. Há, com certeza, quem de mim discorde. Isso, porém, não me pertuba. Toda vez que elejo alguma coisa como de minha preferência, lembro-me da lição do meu professor de Latim, Frei Paulo Kleinken,OFM, lá no velho seminário.
Insistia o exímio latinista: "Olha, rapaz, De gustibus et coloribus non est disputandum"; queriam os romanos dizer que sobre gostos e cores ninguém discute.
7. O Brasil, e com mais entusiasmo o Ceará, contiuam comemorando o centenário de Humberto Teixeira. Diria, que o Brasil, sem o empenho e a atenção que é merecedor o fantástico compositor alencarino.
Arrisco-me a afirmar que Humberto foi tão importante para a música popular brasileira como os inventores da Bossa Nova.
8. O compositor de "Xanduzinha", "Juazeiro", "Qui nem giló", "Lorota boa", "Mangaratiba", "Dezessete léguas e meia", "Paraíba", "Respeita Januário" e de outros clássicos da música sertaneja (sertaneja e não caipira) nasceu no dia 5 de janeiro de 1915, na cidade de Iguatu, terra de meu pai, e onde eu vivi toda a minha infância.
9. Eu menino, andando pelas ruas do Iguatu, vez por outra, cruzava com o coletor estadual (ou federal?) João Euclides Teixeira, quase sempre na companhia de sua mulher, dona Lucíola Cavalcanti Teixeira, pais de Humberto Teixeira.
No Iguatu, registra a história, um cidadão foi fundamental na formação musical de Humberto Teixeira. Refiro-me ao flautista Lafaiete Teixeira, tio do Humberto, e amigo de minha família. Nossas casas eram na mesma rua; na mesma praça; a praça da Matriz.
10. Não conheci Humberto Teixeira pessoalmente. Sabia, através do meu pai, que ele era o Doutor do baião.
Nesses idos, fim dos anos 1940, ele já fazia enorme sucesso com seus baiões e toadas na voz matuta e inconfundível de Luiz Gonzaga. Mas, desde 15 anos de idade residia na Cidade Maravilhosa.
11. Porque ele deixou o nordeste, o sertão, inda menino, me faço sempre esta pergunta: onde o Humberto Teixeira foi encontrar tanta inspiração para cantar, com inigualável doçura e precisão, os costumes, o pessoal e as belezas do seu sertão?
Gonzaga, vá lá: o sanfoneiro de Exú viveu no mundo sertanejo, até rapazinho. Aprendeu as coisas e as modinhas de lá com o velho Januário, seu pai, a quem respeitou, na vida e na canção. Fica a pergunta.
12. Confesso, que a música do Humberto Teixeira, pela qual me apaixonei e apaixonado continuo, não nasceu da parceria dele com o Rei do baião.
Essa música é "Kalu". Coube a Dalva de Oliveira interpretá-la. Ninguém melhor do que ela o faria. Recorde, meu paciente leitor, a letra: - "Kalu, Kalu,/ Tira o verde desses óios de riba d´eu/ Kalu, kalu,/ Não me tente se você já me esqueceu/ Kalu, Kalu,/ Esse oiá depois do que se assucedeu/ Com franqueza só n´um tendo coração/ Fazê tal judiação/ Você tá mangando de eu?/ Com franqueza...!"
Humberto Teixeira ! Doutor do baião!
Partiu no dia 3 de outubro de 1979.
Êta compositor pai-d´égua!
da canção asa-branca
1. O xote "No meu pé de serra" foi a primeira música que Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga fizeram juntos. Esse xote, de um romantismo sertanejo incrível, nasceu em 1945; não no coração do nordeste, mas no escritório do advogado Humberto Teixeira, no coração do Rio de Janeiro.
2. Gonzaga, em dois momentos, conta como tudo aconteceu: "Foi aí que eu, numa auspiciosa tardinha de agosto de 1945, seguindo os conselhos e os rastros de Lauro Maia, risquei em seu terreiro (dele, Humberto) com minha sanfona, meus ritmos, minhas idéias..."
E em outro depoimento, este registrado por Diminique Dreyfus, escrevendo sobre a vida do Rei do baião, o velho Lua disse: "No primeiro encontro com Humberto, em dez minutos, já havíamos escrito a letra de No meu pé de serra."
3. Vale lembrar, a título de informação, quem era Lauro Maia, que fez parte dessa estória. O Lauro, cunhado de Humberto Teixeira, foi um famoso boêmio, compositor, arranjador e instrumentista.
Levou Gonzaga ao cunhado porque, no seu entender, Humberto era o homem certo para ajudar o sanfoneiro, que procurava um parceiro. Humberto, dizia Lauro, além de ser "um excelente letrista" era "um cearense da gema".
Lauro Maia nasceu em Fortaleza no dia 6 de novembro de 1913. Casado com Djanira Teixeira, morreu tuberculoso, em 5 de janeiro de 1950, no Rio de Janeiro.
4. O Brasil conhece, de sobra, as belíssimas músicas, cantando e lembrando o sertão nordestino, deixadas por Humberto Teixeira em parceria com Luiz Gonzaga.
Claro, que entre as mais bonitas está a toada Asa-branca, considerada pela crítica como a Obra-Prima desses dois ícones sagrados da música popular brasileira.
5. Me perdoem os que assim pensam. Mas, outras toadas, xotes e baiões, tão bonitos quanto, a dupla compôs, e estão por aí, até hoje, de boca em boca. Cito, por exemplo, "Assum Preto", "Estrada de Canindé", "Légua Tirana" e o xote "No meu pé de serra".
6. Há, com certeza, quem de mim discorde. Isso, porém, não me pertuba. Toda vez que elejo alguma coisa como de minha preferência, lembro-me da lição do meu professor de Latim, Frei Paulo Kleinken,OFM, lá no velho seminário.
Insistia o exímio latinista: "Olha, rapaz, De gustibus et coloribus non est disputandum"; queriam os romanos dizer que sobre gostos e cores ninguém discute.
7. O Brasil, e com mais entusiasmo o Ceará, contiuam comemorando o centenário de Humberto Teixeira. Diria, que o Brasil, sem o empenho e a atenção que é merecedor o fantástico compositor alencarino.
Arrisco-me a afirmar que Humberto foi tão importante para a música popular brasileira como os inventores da Bossa Nova.
8. O compositor de "Xanduzinha", "Juazeiro", "Qui nem giló", "Lorota boa", "Mangaratiba", "Dezessete léguas e meia", "Paraíba", "Respeita Januário" e de outros clássicos da música sertaneja (sertaneja e não caipira) nasceu no dia 5 de janeiro de 1915, na cidade de Iguatu, terra de meu pai, e onde eu vivi toda a minha infância.
9. Eu menino, andando pelas ruas do Iguatu, vez por outra, cruzava com o coletor estadual (ou federal?) João Euclides Teixeira, quase sempre na companhia de sua mulher, dona Lucíola Cavalcanti Teixeira, pais de Humberto Teixeira.
No Iguatu, registra a história, um cidadão foi fundamental na formação musical de Humberto Teixeira. Refiro-me ao flautista Lafaiete Teixeira, tio do Humberto, e amigo de minha família. Nossas casas eram na mesma rua; na mesma praça; a praça da Matriz.
10. Não conheci Humberto Teixeira pessoalmente. Sabia, através do meu pai, que ele era o Doutor do baião.
Nesses idos, fim dos anos 1940, ele já fazia enorme sucesso com seus baiões e toadas na voz matuta e inconfundível de Luiz Gonzaga. Mas, desde 15 anos de idade residia na Cidade Maravilhosa.
11. Porque ele deixou o nordeste, o sertão, inda menino, me faço sempre esta pergunta: onde o Humberto Teixeira foi encontrar tanta inspiração para cantar, com inigualável doçura e precisão, os costumes, o pessoal e as belezas do seu sertão?
Gonzaga, vá lá: o sanfoneiro de Exú viveu no mundo sertanejo, até rapazinho. Aprendeu as coisas e as modinhas de lá com o velho Januário, seu pai, a quem respeitou, na vida e na canção. Fica a pergunta.
12. Confesso, que a música do Humberto Teixeira, pela qual me apaixonei e apaixonado continuo, não nasceu da parceria dele com o Rei do baião.
Essa música é "Kalu". Coube a Dalva de Oliveira interpretá-la. Ninguém melhor do que ela o faria. Recorde, meu paciente leitor, a letra: - "Kalu, Kalu,/ Tira o verde desses óios de riba d´eu/ Kalu, kalu,/ Não me tente se você já me esqueceu/ Kalu, Kalu,/ Esse oiá depois do que se assucedeu/ Com franqueza só n´um tendo coração/ Fazê tal judiação/ Você tá mangando de eu?/ Com franqueza...!"
Humberto Teixeira ! Doutor do baião!
Partiu no dia 3 de outubro de 1979.
Êta compositor pai-d´égua!