UM DIA TOMO CORAGEM E MINTO QUE SOU ATEU
No final do dia o calor foi sendo empurrado para o mar. A frente fria que vinha lá das bandas da fronteira com Argentina e Uruguai em menos de 20 horas chegou por aqui e a meia noite nem bem chegara e o vento acompanhado de algumas pancadas de chuva fracas, diferentes daquelas boas para dormir, pois chovia e parava e assim o sono tinha altos e baixos.
Pouco depois das quatro horas alguém cantava, parecia que vinha de alguma casa distante no máximo 50 metros, prestei a atenção e não era nenhum vizinho mais alegre, a voz do cantor vinha lá do Teresópolis Tênis Club ou proximidades. Pronto, só fui dormir depois das cinco, pois ficava tentando acompanhar o cantar que invadia a colina Primavera.
A invasão da colina pelos sons vindo lá debaixo sempre acontece, quando brisas mais fortes sopram de lá para cá. Depois a brisa virou e mal ouvi o bater dos sinos das igrejas da Nossa Senhora da Glória e da Nossa Senhora da Medianeira.
Sem ouvir os sinos logo pensei que assim era melhor, pois poderia disfarçar como tenho feito e não atender os chamados às missas, mesmo precisando de reforço nas minhas rezas. Não pensem que eu precise de reforço por mim ou pelos meus queridos, pedidos domésticos e individuais, que sendo justos e bem feitos Deus atende prontamente, já os coletivos e principalmente envolvendo odientos exigem reforços e adesão da massa.
Tenho sofrido pela intransigência, pelo espirito odioso, pela falta de compreensão de pessoas que acreditam que justiça é vingança e que vingança cabe nos Deuses do bem.
Tenho sofrido pela ingenuidade de pessoas que acreditam em personalidades só porque antes de sair do banheiro lavam as mãos, mas não lavam antes de entrar.
O pouco mais de 30 mil ateus brasileiros possivelmente não sofram quando odeiam ou clamam por vingança, por isto penso em aderir a ideia de dizer-me ateu e assim apaziguar minha alma, se é que ateu aceite almas, entretanto tenho medo que algum Deus me encontre escondido por detrás de um rótulo!