Um Novo Olhar
Manhã de domingo. Lá fora o burburinho dos jovens rumo às praias, com aquela alegria de quem tem tanta vida pra viver. Perambulando pela casa abro a janela que dá para o quintal e me deparo com aquela imagem, tantas vezes vista, mas nunca com os olhos da alma.
O chão salpicado de luz, o balouçar lento das folhas poupadas pelo outono, o inebriar quente das cores. No cajueiro as primeiras flores, promessas de futuros frutos, e acima de tudo, um céu azul de doer. Fiquei a pensar: Toda esta beleza sempre esteve ali, intocada pelo meu olhar, como se estivessem numa outra dimensão.
Quantas outras coisas belas, pessoas, lugares, estiveram ao meu redor durante estes longos anos e nem percebi. Foi preciso que a poesia entrasse em minha vida abrindo meus olhos para que vissem além da superficialidade das coisas. Agora entendo Adélia Prado, quando dizia: “De vez em quando Deus me tira a poesia, olho uma pedra e vejo uma pedra mesmo”.
Meus versos toscos e brutos ainda não têm a leveza para traduzir esta mudança que se operou em meus sentimentos. Nem sei se ainda há tempo para que isto aconteça. Só peço aos que me leem o incentivo e a paciência com que sempre precisam contar os principiantes.