Dawntown Latino
Foi em um sábado que se levanta com toda disposição por nada e nem por ter aquilo que se fazer. Apenas perambular e ver gente.
Convergente. O centro fervilhava. Divergente. Variedade de situações sociais. Múltiplos motivos de ali estar no centro da cidade – aldeia e mundos.
A praça pública se converteu em diversos palcos. Havia feira livre de artesanato. Plantão de profissionais conscientizando a necessidade de cuidar da saúde. Aposentados ensaiando jogos de dama e carteados. Ocupando todos os ouvidos, suplantando o burburinho e alaridos, lá estava ela. Era vista de forma desfragmentada por causa de todos que ali se concentravam ora um ombro, ora o torso, ora o braço, ora a mão que segurava o microfone. A voz se fazia plena. Ela cantava a velha canção: “Cinderela... Cinderela... Menina moça, coração a palpitar. Cinderela eu sou. E meu príncipe encantado vai chegar.” *¹
Ninguém lhe prestava atenção. O que deveria parecer alegria era quase lamento: aquela música e aquela voz não se afinavam com a alegria que se estabelecia pelo resto do espaço.
Mais abaixo um palhaço enchia balões moldando-os e distribuindo em forma de elmos e espadas. Doava aos meninos, futuros príncipes para cinderelas desafinadas – recalques da cultura romanesca causadora de frustração por fugir à razão e à realidade prática.
Nas escadarias do antigo cinema compondo cenário de outras paragens, peruanos vestidos à moda, tocavam melancolias em flautas.
A rua, indiferente às particularidades de sentimentos pessoais ou étnicos, seguia em festividade capitalista: era loja vendendo e consumidor comprando – tudo negando em prática a propalada crise que a oposição política canta para analfabetos que não sabem interpretar manchetes noticiosas.
Hora do almoço!
Foi-se a um dos restaurantes. Também ele fervilhava de gente. Comiam, bebiam, refestelavam e festejavam a vida, o término de mais uma semana, as compras feitas e por se fazer ainda, os amigos e a todos que ali estavam.
Na mesa distante, solitária, lindamente assentada e vestida à francesa, ela beliscava e sorvia seu lanche aos poucos. Interrompia o ato de se alimentar para anotar em seu caderninho aquilo que ela calculava em sua pequena máquina de fazer contas. Nisto ela parecia uma inglesa calculando lucros e dividendos de seus impérios.
O sábado transcorria e a tarde chegava convidando à indolência de prazeres simples.
Hora da sesta!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 18/05/2015
*¹Autoria: Adelino Moreira de Castro
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com
Foi em um sábado que se levanta com toda disposição por nada e nem por ter aquilo que se fazer. Apenas perambular e ver gente.
Convergente. O centro fervilhava. Divergente. Variedade de situações sociais. Múltiplos motivos de ali estar no centro da cidade – aldeia e mundos.
A praça pública se converteu em diversos palcos. Havia feira livre de artesanato. Plantão de profissionais conscientizando a necessidade de cuidar da saúde. Aposentados ensaiando jogos de dama e carteados. Ocupando todos os ouvidos, suplantando o burburinho e alaridos, lá estava ela. Era vista de forma desfragmentada por causa de todos que ali se concentravam ora um ombro, ora o torso, ora o braço, ora a mão que segurava o microfone. A voz se fazia plena. Ela cantava a velha canção: “Cinderela... Cinderela... Menina moça, coração a palpitar. Cinderela eu sou. E meu príncipe encantado vai chegar.” *¹
Ninguém lhe prestava atenção. O que deveria parecer alegria era quase lamento: aquela música e aquela voz não se afinavam com a alegria que se estabelecia pelo resto do espaço.
Mais abaixo um palhaço enchia balões moldando-os e distribuindo em forma de elmos e espadas. Doava aos meninos, futuros príncipes para cinderelas desafinadas – recalques da cultura romanesca causadora de frustração por fugir à razão e à realidade prática.
Nas escadarias do antigo cinema compondo cenário de outras paragens, peruanos vestidos à moda, tocavam melancolias em flautas.
A rua, indiferente às particularidades de sentimentos pessoais ou étnicos, seguia em festividade capitalista: era loja vendendo e consumidor comprando – tudo negando em prática a propalada crise que a oposição política canta para analfabetos que não sabem interpretar manchetes noticiosas.
Hora do almoço!
Foi-se a um dos restaurantes. Também ele fervilhava de gente. Comiam, bebiam, refestelavam e festejavam a vida, o término de mais uma semana, as compras feitas e por se fazer ainda, os amigos e a todos que ali estavam.
Na mesa distante, solitária, lindamente assentada e vestida à francesa, ela beliscava e sorvia seu lanche aos poucos. Interrompia o ato de se alimentar para anotar em seu caderninho aquilo que ela calculava em sua pequena máquina de fazer contas. Nisto ela parecia uma inglesa calculando lucros e dividendos de seus impérios.
O sábado transcorria e a tarde chegava convidando à indolência de prazeres simples.
Hora da sesta!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 18/05/2015
*¹Autoria: Adelino Moreira de Castro
ESCREVA PARA O AUTOR:
conversandocomoautor@gmail.com