E Foram Felizes para Sempre
 
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
Carlos Drummond de Andrade

Maio, mês das noivas; dia dos namorados chegando e, pra completar, meus sogros celebraram Bodas de Diamante. Fiquei romântica e resolvi falar desse assunto que mexe com o coração – e a cabeça – da gente: o amor. Ou uma de suas vertentes: relacionamentos. Não ambiciono escrever um texto de autoajuda. Deixo esta missão praquela minha parente famosa, a Marthinha.
Vou só falar de algumas teorias que criei a partir da minha própria vivência e que já vi, de uma forma ou de outra, sob outras canetas.
Uma delas é sobre felicidade. Acredito que felicidade é uma decisão pessoal. Todos temos problemas, todos temos instantes de tristeza, de perdas e dor. A forma de lidar com isso, porém é que faz a diferença e, quando a gente opta por ser feliz, entende a transitoriedade dos dias ruins e toma para si as rédeas da situação para que eles não se tornem perenes.
E o que isso tem a ver com relacionamentos? É que, uma vez que ser feliz torna-se uma obrigação individual, ela deixa de ser uma carga no ombro do outro. A vida a dois é muito mais leve quando cada um entende que a sua felicidade não depende do outro, embora possa ser partilhada e multiplicada na convivência. Sentir-se na obrigação de fazer o outro feliz é uma ingenuidade que ruirá – com sequelas – ao primeiro desentendimento, se o outro não está predisposto à felicidade. Nada contenta o eterno descontente.
Mas, então, se dá pra ser feliz sozinho, por que nos relacionamos?
Para viver e proporcionar alegrias e para ser e ter apoio nos eventos ruins.
Vejo as relações como contas bancárias, onde os bons momentos proporcionados são depósitos; os ruins, retiradas. Assim como nas finanças, o único jeito de sair do vermelho é cortando despesas (mágoas) e trabalhando mais para aumentar os ganhos (encantos).
Um grande amor, numa pessoa essencialmente feliz, pode sustentar uma relação falida por algum tempo emprestando-lhe algum crédito, mas o acúmulo de desgostos tende a minar o sentimento, até que ela decida encerrar a conta.
Por isso, melhor ficar de olho no extrato e caprichar nas DRs, se a ideia é ficar velhinhos juntos.
Ou, começar aos 64. Quem sabe?

 
Texto publicado no jornal Alô Brasília de hoje.