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SOU TÃO ENGRAÇADINHA!
Ysolda Cabral



Há no meu braço direito uma pequena e quase imperceptível cicatriz. Não sei exatamente como ela aconteceu. Creio que foi quando executava, às pressas, alguma tarefa doméstica, a mando de mamãe. Lembro que doeu um bocado e sangrou bastante. Lembro, principalmente, do quanto gostei de ter chorado naquele momento… O corte me serviu de desculpa para abrir um berreiro com bastante gosto, apesar de nunca ter precisado de motivo para chorar; fosse de tristeza, alegria ou saudade… – Mas, como é bom chorar quando o coração da gente está triste e aparece um motivo, mesmo que esse motivo seja um pequeno e insignificante corte no braço! Parece que o choro lava, não só o coração de toda a tristeza, mas a alma também, e a gente se sente mais leve e mais em paz.

– Ah, cicatriz abençoada! Por conta dela recebi mais atenção que merecia, porém nem metade da atenção que eu queria e precisava naquele dia receber, por mais que eu tivesse me empenhado no chororô. Mamãe me entendia bem!… Contudo, é fato que eu me sentia frágil e jogada à minha própria sorte, algumas vezes.

É assim que me sinto hoje; frágil e jogada às traças, muitos anos depois, e sem mamãe! Isso me assusta. Eu pensava que quando a gente ficasse grande a gente se tornava forte, mandando na sorte… Contudo, constato agora que tudo é incrivelmente igual, sendo diferente.

Pois não é que - mesmo que eu me cortasse neste instante e abrisse um berreiro sem precedente - ninguém estaria nem aí? A não ser para tirar um sarro de minha cara e me taxar de ridícula. Entretanto, ainda me resta chorar sozinha num canto….  Mas, tem graça um choro desses? Choro que ninguém vê, que ninguém consola, nem faz um carinho? …

Melhor mesmo é dar risada de todas as minhas desgraças e parecer bem engraçadinha!...

 
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Praia de Candeias-PE
Na Era do Medo
19.05.2015

 

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Ysolda Cabral em Prosa e Verso