Em Nome do Santo
Ultimamente, estive às voltas com questões que há muito me instigavam: Em que medida me relaciono com meu nome - Éder Antônio de Araújo? Por que será que me fora dado exatamente esse? E até que ponto ele, de fato, me identifica? As respostas dependeriam de uma análise profunda acerca de meu passado, das influências diversas, fatores históricos, algum desejo de “glamour”, enfim de toda sorte de circunstâncias que certamente teriam guiado meus pais no ato da escolha, que, em si, representa um ato absoluto de poder - dizer quem será o filho. E, como todo ato de poder, é exercido robustamente por muitos; por outros, entretanto...
Iniciando então a saga em busca de minha identidade, remontei aos tempos de garoto e lembrei já ter sido Nenê (quem não o foi?), Edinho, Edão, Arão e outras alcunhas indizíveis publicamente. Fixei-me apenas em Éder. Gosto dele, aproxima-me do paraíso. É enxuto, mas é forte, sonoro... Provavelmente esse teria sido o nome de algum expoente histórico, um grande general, um soberano, quiçá um grande erudito. Mas não!... Para minha surpresa, fora apenas fruto de um puríssimo determinismo vocálico; sim, determinismo vocálico. Minha irmã era Elisabete; meu irmão, Édson; sobrou-me Éder, e pronto!
Assim, empolgado com a primeira descoberta, parti para o sobrenome e acabei chegando à Araújos, cidadezinha perdida nos recônditos das Minas Gerais e que, pelo que parece, fora o homônimo perfeito, não possui relação qualquer com os Araújos de minha família. Mas essa falta de lastro histórico não me perturba; acho que tenho certo vínculo com minha estirpe. Araújo é interessante, adotei-o como nome de guerra no meio militar, provavelmente, pela figura de meu pai, que mo cedera; e o coitado nem gostava de soldados, não sei bem por quê. Talvez por causa de algum “soldado amarelo” como o de Fabiano, talvez pelo cabo Martins, que batia na mulher, e era nosso vizinho; ou seria pelos soldados romanos que martirizaram Jesus?...
Bem, o Araújo ficou; o Éder me empolgava, e também ficou; mas o Antônio... Esse nome jamais me soara vibrante. Fui ter com minha mãe sobre a questão. Esperava explicação convincente, uma significação etimológica, alguma força na raiz: Antônio, antônimo, antítese, antonomásia... E a grandiloqüente resposta me foi: – Homenagem a seus avôs... Fiquei atônito. – Mas e meu irmão? Ele nasceu antes! Por que não recaiu sobre ele a missão da homenagem? E a prosa mudou o rumo, indo parar no “Santo Casamenteiro”. Isso mesmo; sou Antônio por causa de Santo Antônio. Pois é!... Mas, sinceramente, quando o assunto é casamento, estou mais para *Bernard Shaw do que para Antônio de Pádua.
Assim, sem maiores polêmicas, fico apenas com Éder de Araújo.
* “Cabe à mulher casar-se o mais cedo possível e ao homem ficar solteiro o maior tempo que puder”. George Bernard Shaw - dramaturgo irlandês (1856–1950).