Maio Místico

Maio Místico






Agorinha mesmo está sendo velada em casa a mãe de uma menina que vi de relance, anos passados. Me perguntaram se pode velório em casa. De cabeça disse que com minha bisavó materna assim aconteceu. Ah, mas antigamente podia, retrucaram. Como antigamente? Minha tréplica parecia indignada. Aconteceu trás anteontem, em 1978. Tão perto quanto ante ontem, domingo, data em que a igreja comemorou a ascensão de Jesus. Em primeiro de maio os esotéricos comemoraram a ascensão de Saint Germain, que durante o ministério do Nazareno chamou-se José. Tudo um batuque só, neste maio. Dia 13, no santuário de Fátima teve missa de hora em hora. Fui na das 15 horas e saí leve que nem um periquito. Num dos canais de TV de agorinha mesmo um papo cultural com a mulher mais chata que já vi na vida, tagarela envolta numa empáfia que deveria ser proibida por lei. Além do que, de bom grado um samaritano receitaria um ansiolitico pra ela.

Em abril, palavra de honra que está na hora de se desfazer do(s) calendário(s), pisca-se o olho em janeiro, em fevereiro um bocejo, em março coça-se a cabeça, em abril uma das pernas moveu-se, agorinha maio, poderia ser junho, tanto faz, foram segundos com insinuações de movimentos, poderia ser tudo janeiro não fosse o calor, porém como dizia, em abril o telescópio robótico Rotse-Illb, do Observatório McDonald, Fort Davis, Texas, confirmou uma das maiores explosões no Universo, raios gama pra tudo que é lado descendo até aqui agorinha mesmo, em maio, parece que os astrônomos ainda não compreendem direito os raios gama, tais explosões liberaram mais energia em 10 segundos do que sol da nossa Terra irá liberar durante toda a sua vida útil esperada, que é de 10 bilhões de anos.

Depois dizem que não é místico... Mas já está acabando.

A situação no RJ parece um seriado fantasmagórico. Nos territórios abandonados, semana passada foram 12 velórios computados, até nos tanques atiram. Ninguém ta nem aí não, só os atados no redemoinho sofrem nas vísceras. Tem gente que já nem sai de casa.

Em termos de nação reparte-se a culpa de modo homogêneo: excesso de prosélitos, de velhos corolários que andam se desfazendo como bolo espatifado em festa de criança, o solecismo ficou instituído como norma a se perder de vista, a anomia paquidermica e por si só contagiante demole o que vê pela frente, mais as testilhas, cruas, inomináveis, truculentas, que não se pode lidimar. "Sabe o que é a pior parte de se viver fora da lei? Você não conta mais com a proteção dela". (Truman Capote).

Culpa de homens ou de mulheres? A resposta está na frase da filosofia iluminista:

"L'âme n'a pas de sexe" (A alma não tem sexo).

Penso nessa mãe velada agorinha mesmo, quatro filhos, um neto pelo que me consta, deixa para trás conexões, raízes, senso de identidade e necessidade de uma devoção emoldurada, o feto só cresce quando sai do útero, o espírito só pode ir para o próximo páramo liberto da embalagem, desencarna no maio místico e quem sabe no caminho para o outro lado da ponte encontre algum ente da rede de anjos humanos, considerados os primeiros a fazer a transição para a Nova Energia, por hora estão entre o carbono e o silício, experimentam com alegria os desafios da ascensão, moldam-se como parâmetros para outros seres humanos na jornada de descoberta do Deus interior.

Também em maio ocorreu o festival de Wesak e o aniversário de Buda.



(Imagem: foto do autor)
 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 19/05/2015
Reeditado em 20/07/2020
Código do texto: T5246714
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