ATIRE A PRIMEIRA PEDRA QUEM NUNCA PECOU.
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA QUEM NUNCA PECOU.
Não há nada melhor que recordar, ao som de um uma bela música, momentos que ficaram eternizados em nossas memórias. Ainda há quem tenha o atrevimento de dizer: Não se apaixone!! Que destempero. Por sorte, sou rebelde e com uma tendência incontrolável de seguir meus instintos. Ainda bem.
Agora, Imagine essa situação, se paro em frente a uma vitrine, vejo um belíssimo sapato ao lado daquela bolsa que povoou meu imaginário por noites adentro, me tirando o sono e quando este vinha, era nos sonhos que eu continuava a pensar neles. Como não me apaixonar? Como hei de chegar em casa e não lembrar do sapato e da bolsa que são perfeitos no look com o body de oncinha de uma alça só, calça marrom, super justa – que levei séculos para encontrar e blazer caramelo. Peças que estão, a mais ou menos, umas duas semanas, guardadas no guarda-roupa esperando a ocasião certa para se “amostrem”. Louca seria, se eu não entrasse naquela loja, naquele instante, e não realizasse o casamento bígamo entre eu, o sapato e a bolsa.
Quero que, se puderem, respondam-me: Como posso trabalhar a minha auto-estima sem passeios ao shopping, sem “guajar” nas lojas vendo as últimas tendências, provando os novos cortes das calças flare, cigarrete, pantalona... Os últimos lançamentos para a próxima estação entre cores e cortes... Como resistir às promoções, que nos bombardeiam com propagandas, cartazes, emails... Que nos provocam nas conversas que ouvimos na mesa ao lado, quando estamos tomando um café na praça de alimentação do shopping. Confesso que nunca há a intenção, nestas ocasiões, de resistir à tentação de ouvimos o que as descoladas da mesa ao lado estão falando.
Não vejo alternativas coerentes e apaziguadoras, que possam substituir um dia de compras como contribuinte determinante e efetivo no alavancar da minha auto-estima. Ei! Não me atirem pedras, Maria Madalena estava acuada de frente para pessoas tão pecadoras quanto ela. Ela errou ao sucumbir? Sim, errou. Naquele momento, Jesus foi o único a entendê-la, e puxar a orelha daqueles errantes desvairados.
Que somos seres errantes, isso sabemos que somos, desde os primeiros tempos, e daí? Que cada um de nós com seus sonhos e desejos, peculiares ou rotineiros, sendo pecadores e humanos, acabam por sucumbir, de uma forma ou de outra, Ah, isso não há como negar. Principalmente quando somos tentados em nosso ponto fraco.
Essa danada paixão... A culpa é dela, que nos ilude com sensações maravilhosas. Transporta-nos, a paixão, para um estado de dormência e alívio das dores da alma, revigorando nosso ser a cada vez que nos apaixonamos por alguém, pelo bichinho de estimação do vizinho, pelo vestido na vitrine- que custa três vezes mais que o salário que ganhamos ou mesmo pela caneca de café do nosso colega de trabalho, da mesa ao lado. Toda vez que nos apaixonamos entramos no estado de transe, provocados por doses maravilhosas de dopamina, nos proporcionando sensações de alivio, prazer e bem estar; euforia, desejo, tremores e rubores. Um coquetel delicioso de sentimentos que nos rejuvenesce e nos torna mais ativos e vivos.
Essas foram, exatamente, as sensações que tive ao ver o sapato e a bolsa naquela vitrine... Rolou uma química, a química da paixão. Não tenho dúvidas, foi amor a primeira vista. (In)felizmente descobri que sou louca, fui forte o bastante para não sucumbir ao meu desejo profano do consumismo... Por hora, vou comprando uma tinta mágica para couro (que custa baratinho) e vou repaginando meus sapatos e bolsas, deixando-os novos e descolados. Acreditem, renovo a paixão dos velhos amores!
Flávia Arruda 17/05/2015