Estelita
Carlos Sena
Carlos Sena
Nos meus tempos de Bom Conselho tive uma professora chamada Estelita. Ótima professora, daquelas rigorosas com tudo. Hoje, em Recife só se fala em Estelita. Mas, afinal quem é Estelita? Mulher de seu Clivo? Não tenho certeza. Xapralá. Fato é que aqui na capital pernambucana, Estelita não é gente, mas um cais. Adoro cais. Tudo que une gente, tudo que as reúne e as leva e trás me agrada. Cais me lembra muito da "secretária da beira do cais". Lembra despedida, lembra solidão. Lembra a tarde caindo e os namorados de mãos dadas curtindo um entardecer domingueiro. Nesse clima de sentimento lírico é que me tomo no compreender de Estelita como cais. Tudo bem que minha professora era (ou ainda é se viva for) uma mulher bonita. Estelita daqui é homem. É nome do cais tão bonito. É homem e seu nome virou nome do cais que se transformará em breve num pandemônio urbano. José Estelita é o nome e sobrenome do cais.
Caís, oh escriba insolente no conto desse crença? Não. O pandemônio urbano anunciado causa medo e, certamente, o cais virará 12 torres de apartamento com trocentos andares cada. Verdadeiras torres de babel. Babel de carros uns sobre os outros. Babel de esgotos estourados e de poluição sonora a toda prova. Babel de engarrafamentos sem fim. Babel de políticos rindo a toa do nosso povo passivo que ao cais permitiu destruir. Estelita subtraído pelo poder econômico das construtoras. Estelita que não se interdita em favor do verde, dos parque, das retratas, das... Minha professora chamava-se Estelita. Em Recife o Estelita interdita-se por falta de compromisso dos políticos de plantão.
Carlos Sena