A nossa madeira ancestral
Muitas vezes a memória conserva-se através da visualização de objectos com os quais lidaram pessoas que estimamos, mas que já morreram, porque ao tocarmos nesses objectos ou recordamos, evocamos essas pessoas ou simplesmente imaginamos o seu dia a dia perdido algures no tempo que nos separa delas.
Um destes dias chegou ás minhas mãos um toro de madeira com tantos anos que ninguém sabe precisar exactamente a sua idade. Sabemos apenas que pertenceu a antepassados nossos.
Colocou-se a hipótese de queimar esse toro, mas eu recusei: deveria ser preservado, pois ele é um dos últimos depositários da memória desses meus parentes distantes, dado naquele tempo nem sequer existirem máquinas fotográficas que nos permitissem ver como eles eram, recordá-los.
O toro fará pois esse papel.
E o mais engraçado (e ao mesmo tempo irónico…) é ser um simples toro de madeira, feito para ser consumido rapidamente, mas que ao ter sido esquecido permitiu que, dai a muitos, muitos anos, um descendente desses homens e dessas mulheres, olhe para ele imagine esses antepassados e, com esse simples exercício de memória e de imaginação os faça voltar a viver…