Desabafo

- Nice?! Que droga, onde é que minha mãe foi achar essa merda de nome? Nem ao menos me chamo Cleonice ou Janice, que no diminutivo fosse Nice. Nice assim do nada só pode ser piada! E a professora, parece que faz só pra tirar sarro da minha cara, Nice! Presente professora, presente professora! Ai que ódio! – Quer saber de uma coisa? Em mesma vou à justiça e acusar meus pais de bullyng, onde já se viu colocar o nome numa pessoa de Nice! Porque não me chamo como minhas colegas? Rayully, Agatha, Aldayussy, Camila, Gretha Garbo! Gretha Garbo! Imagine eu na casa da minha avó com tantos nomes de primos sem expressão e gritam da Rua por Gretha Garbo! Os olhos dos meninos ficariam brilhantes, motoqueiros pararariam no meio da rua para olhar para esta figura, Gretha Garbo?! Sim, diria eu, pois diga senhorito lindo, por acaso queres que eu passeie na sua garupa? Onde queres levar-me seu danado? – Ai como seria diferente meu Deus! Mas e Nice quem vai querer sair com Nice, só mesmo alguém que se chama Zé, ou João ou Adilson! Ai que horror, já pensou o Padre no altar com a igreja lotada de pessoas de alta classe, - Senhora Nice aceita seu Zé como legitimo esposo? Ai é de doer! Ou então o repórter entrevistando por algum motivo: - Estamos aqui para saber o que estão achando da exposição agropecuária o senhor João e a senhora Nice! Ai credo, chega! Para! Basta o amigo oculto na casa da Gabriely eu louco para ganhar uns amassos do Lucas que até me esqueci que ao abrir os presentes teria que falar o nome, não adiantou minhas orações para dar um curto circuito e a luz se apagar para eu desistir na outra vez, ou então o pai dela surtar e dar um grito totalmente nú e todos precisarem ir embora. Nada disso aconteceu e para ficar pior o Lucas havia me tirado. – Notei quando ele começou com seu texto ridículo, pode ser até bonitinho, mas falta de criatividade igual à dele é difícil se encontrar, cada vez que ele tentava ser inteligente ficava mais burro e deixava meu nome ainda mais escroto. Em certo momento eu já estava tonta de tantos rodeios, que levantei a mão disse obrigado. Para pisotear a minha sensível alma de princesa Nice! Argh! A Ludyara fizera uma lista das melhores amigas e infelizmente eu esta nela, antes de chamar o amigo oculto ela precisava fazer aquele discurso, ninguém merece! – Amigas é com muito prazer que nossa turma chega a mais um fim ano com todo este amor, então quero agradecer por tudo que representastes para mim: - Ayla Patricia, Síria Amaral, Servia Genova, Luna Silvestre, Maga Eloá, Princesa Amanda e Nice Aparecida! Não, não, não! Mil e duzentas vezes não! E as palmas a seguir soaram para mim como uma rítmica vaia, um monte de pedras de granizo na tempestade batendo na minha cabeça, os abraços pareciam um monte de espinhos se enroscando pelo meu corpo! Pobre Ludy, linda amiga de intenções amáveis, que bela demonstração de carinho, que infelizmente fiquei aterrorizada, principalmente no final da leitura “Luna Silvestre, Maga Eloá, Princesa Amanda e Nice Aparecida” Ai meu Deus, de onde aquelas cabeças de lagartixa foram tirar esse Aparecida para fazer para casar com o monstruoso Nice! Meu pai dissera outro dia que o Aparecida fora promessa com Nossa Senhora Aparecida, quando pequena havia contraído uma infecção que quase leva-me ao buraco senão fosse a intercessão da Santa Milagrosa. O psicólogo que havia passado todo o tempo anotando e mexendo nos óculos, levantou-se e foi até a janela, estava em uma altura privilegiada de forma que as pessoas não passavam de simples miniaturas ambulantes. Carros disparados e faixas pintadas ao longo da avenida. Nice estava na sua quinta sessão de analise para aceitar o nome que viera da bisavó, para ganhar a viagem aos Estados Unidos no aniversário de quinze anos a condição era aceitar a homenagem em seu nome.