Últimos tempos.

Tempos incertos se avizinham. A imprevisibilidade angustiante do porvir já começa a esvaziar minha vida de razão e o medo torna-se uma presença constante a inquietar-me. Sinto que a fera selvagem já se aproxima e para meu espanto, de súbito vociferou audível, em rugido estrondoso a deixar-me gélido e sem reação. Assombrou-me com o temor da nulidade, a mortificação de uma vã existência em busca de dias de glória em terras desconhecidas. Vejo-me já sem forças, aguardando o encontro com o fatídico destino de ser dilacerado pelos caninos dentes de um animal que desconheço. Não tenho mais a viril idade das épocas de guerras titânicas onde as lutas fratricidas consagraram meus pares. Meus cabelos brancos testemunharam a história acontecer e nela fui protagonista, seja como vilão, seja como herói. E finalmente chegou o momento da última batalha. Lancei meu olhar para a atroz besta que avançava contra mim. Era imensa, aterrorizante, de excêntrica composição corpórea que em nada se assemelhava a qualquer outro organismo vivo em nosso planeta. Golpeou-me friamente no pescoço e então lentamente comecei a desfalecer. Em sua segunda investida, desembainhei a espada e encravei-a em seu peito, fazendo jorrar um viscoso sangue que molhou por completo meu rosto. Foi a última cena que vi antes de chegar na Valhala.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 18/05/2015
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