ATENÇÃO ! LARGAR A ESPIA UM ...
"O SUBMARINO"
PREÂMBULO. Para aqueles que já singraram os
mares brasileiros a bordo de um SUBMARINO a
narração apresentada não constitui surpresa e
uma aventura, pode sim ter relevantes recor-
dações, mas ao homem comum, que nunca te-
essa oportunidade, servirá de extremados co-
nhecimentos e prazeres inesperados, aumen-
tando sua cultura sobre o singular navio.
Diferente de como o navio é apresentado em
filmes, desenhos e documentários ilustrativos,
não há escotilhas que´possibilite ver o mar na
superficie ou nas profundifdades dos oceanos,
essa visão deslumbrante só através do periscó-
pio, prerrogativa exclusiva do Comandante ou
do Oficial de Serviço que procedem a "varredu-
ra"; tivemos o ensejo de uma vez ter acesso ao
"tubo ótico".
A deferência de estar num submarino é concedi- a qualquer brasileiro, desde que se inscreva pre- viamente na ilha de Mocanguê, onde fica funde-
ada a base submergíveis e haja deslocamento
programado.
É na verdade uma embarcação singular.
"E assim, doravante consagrado con o nome de WAHOO
prometo respeitar ninfas e sereias, conchas e caranu-
jos, enfim todos os seres e leis do Reino de Netuno Rex
I"!
ATENÇÃO ! LARGAR A ESPIA UM ...
Exponho no RECANTO DAS LETRAS algumas emoções vividas a bordo
do SUBMARINO "RIO GRANDE DO SUL" - O PIONEIRO,hoje já desativado.
Por que tornou-se inativo ? O Brasil, pela sua extensão marítima, preci-
sa estar sempre com uma flotilha de submarinos modernos, acompa-nhando o grau de desenvolvimento de outras nações, a fim de poder
defender em igualdade de condições o nosso litoral.
Tentarei reproduzir aos leitores interessados,que não tiveram a ven-
tura de estar num submarino,uma idéia do deslumbramento a bordo,que
culminou com seis (6) imersões, num total de cinco horas, a cerca de
180 pés, nas profundezas do Oceano Atlântico. Tudo é programado e
respeitado. Há uma seqüência de detalhes,que deriva de uma organiza-
ção impar, disciplinada e ordeira.
Içada a Bandeira Nacional, às 8 horas,é que se tem acesso ou saida
do navio. Ainda no cais ouve-se o aviso: "Sinal para a Bandeira", daí em diante começa a faina diária. O Oficial de Serviço,a bordo, dá a voz
de comando: - "Em continência, iça".
Todos os navios ancorados dão repetidos e unissonos apitos. A ban-
deira sobe ao mastro de popa.
A bordo prossegue o cerimonial: primeiro o visitante é recebido pelo
Imediato e Oficial de Serviço, segue-se a apresentação ao Comandan-
te, que à época era um Capitão-de-Fragata, que no momento da apre-
sentação entrega o impresso "BEM-VINDO A BORDO".
A Marinha do Brasil tem sempre o prazer em receber qualquer brasi-
leiro que visita suas dependências, por isso mesmo o impresso diz que:
o visitante é motivo de orgulho para a tripulação, e os homens que servem neste navio tudo farão para corresponder à amabilidade e sen-
tirão prazer em responder a qualquer pergunta, orfientando-o a bordo.
O submarino é um navio extremamente complexo, com equipamentos
estranhos e sofisticados.
Prosseguem os comandos: - "Submarino pronto para suspendar".
Antes dessa manobra, o ato solene, transmitido pelo alto-falante in-
terno, convida o visitante a subir ao passadiço, (parte superior do na-
vio, em que permanecem o comandante, um ordenança, e o oficial de
dia). A tripulação permanece atenta,distribuida pelos "Postos de Sus-
pender". O navio já esta com os motores ligados, atracado apenas pela
ESPIA da proa (parte da frente do navio).
- "Atenção à manobra"!
- "Bombordo (lado esquerdo do navio) atrás 1/3. Boreste (lado direi-
to do navio) adiante 1/3".
- "Bombordo atrás 2/3. Pára boreste. Todo leme a boreste".
- LARGAR A ESPIA UM ! Segue-se um apito longo, que marca o ins-
tante exato que o submarino desatraca.
Singrando as águas da baia de Guanabara,vai deixando a ilha de Mo-
canguê, sucedem-se uma série de cumprimentos pela passagem do "Rio
Grande do Su", são dos submarinos "GOIÁS, HUMAITÁ, e do navio de salvamento GASTÃO MOUTINHO".
- "MAQUINAS ADIANTE, TODA FORÇA"!
Deslocavan-se nas águas da baia as 2.000 toneladas, com 102 metros de cumpimento, no seu iterior a tripulação de 6 (seis) oficiais e
66 praças.
Ao leigo o submarino parece estreito, mas não é. Aquele tinha 10 metros de boca e seus metros de calado.
A primeira comoção, seguida da perplexidade: OS BELICHES ESTÃO COLOCADOS SOBRE OS TORPEDOS, na proa, onde via-se seis tubos de lançameentos, a guarita de salvamento e o ejetor de sinais ficam atrás, na popa.
Rumava-se para a área ALFA,nesta o Comandante quer informações
para IMERSÃO.
O visitante ainda se encontrava no passadiço. Visão deslumbrante, encorajava-se,sentia-se forte,mas a altura que estava da água assus-
tava. O vento ameno, tranquilizava a mente. As pequenas vagas que batiam no casco do navio, davam a idéia da robustes da quilha.
Ao redor, navios de diferentes bandeiras propiciavam observações aos seus passageiros pela passagem do submarino. Um petroleiro,o ma-
gestosos Pão de Açúcar, as fortalezas estrategicamente na entrada da barra, completavam o cenário magnânimo. As nuanças das cores marcavam as pupilas como se estivessemos sonhando.
Ai, veio a voz de comando: - "Submarino pronto para imersão"! No
passadiço,apenas dois vigias e o Oficial de Serviço,os demais já haviam
evacuado aquele aprazível lugar, que proporciona largos horizontes.
Ao visitante só apreensão,qual a sensação que teria,como se com-
portaria ? No preâmbulo chamamos atenção, aquela idéia que se tem,
não é verdadeira, só no ficção cinematográfica, da existência de um grande visor, que daria para ver o fundo do mar...
- MERGULHAR, MERGULHAR; determina o Comandante.
-"TODOS ABAIXO, TODOS ABAIXO".
Em segundos, praças e oficial estão no interior da embarcação. O ofici-
al fecha a última escotilha e comunica:
- "GARRAS PASSADAS".
O Comandante determina a profundidade. - "COTA DE 60 PÉS".
Todos trabalham, até o cozinheiro tem atividade diferente de sua roti-
na na cozinha.
Os homens parecem, naquele momento, um só ser, com dezenas de braços.
Leva apenas um (1) minuto e as 2.000 toneladas estão cobertas por
uma camada de 20 metros d´água. O silêncio é aterrorizante, só a voz do Comandante se ouve: - "IÇA O PERISCÓPIO". "VARREDURA", VARRE-
DURA ! Segue-se a resposta: - "Há um mercante próximo à área".
- "Operador de sonar, acompanhe e informe".
Como visitante não senti nada de anormal. Foi me dado ensejo de ir ao
periscópio.As praias de Copacabana estavam tão próximas,que talvez,
se fosse verdade, poderia sentir suas areias.
Durante o trajeto estivemos em diferentes profundidades, o submari-
no chegou a 180 pés, cujas cotas podem ser observadas nos manôme-
tros.
- Isolar compartimentos".
- Cota de 100 pés. "Manobra 100 pés, segue-se a voz de comando
mais enérgica: "NÃO SÃO 102 PÉS"; EU ORDENEI 100 PÉS, CORRIGIR"1
- Ciente, agora cota de 100 pés.
O lembrado "Rio Grande do Sul" foi o primeiro submarino brasileiro a ter o "ESNÓRQUEL", instrumento que permite usar os motores princí-
pais para propulsão ou carga de baterias quando mergulhado, SEM A POSSSIBILIDADE DE SER DETECTADO.
O submarino é dividido em compartimentos estanques que, quando
fechados, impedem a passagem d'água de um para outro, em caso de
avaria no casco.
Naquele dia, um grupo de alunos oficiais, do Centro de de Instrução e Adestramento de Submarino Mergulho estava fazendo provas. Rispi-
da e exigente a sabatina, sem a menor proteção ou facilidade. As res-
postas a uma saraivadas de perguntas e situações simuladas devem
solucionadas incontinentes. Problemas de emergências são apresenta-
dos como reais. Dos alunos concluintes do curso na Escola Naval, ape-
nas 10% especializam em submarino.Vimos no compartimento de mano-bras um Oficial-aluno de submarino ter sua última chance, sem êxito.
Pareceu-nos que o marujo que ouvia e transmitia as ordens passadas
ao examinando excessivamente impassível, sem um simples piscar de olhos, como a alertá-lo para o equivoco,que o marinheiro sabe pela ex-
periência do dia-a-dia, do erro que ele estava cometendo. Perguntei, depois, na hora do almoço, ao Comandante Dutra, por que tanta seve-
ridade no exame? Semblantes circunspectos, nem uma simples "deixa", a favorecer o examinando, exatamente na sua última oportunidade, do
equivoco que estava cometando. A resposta veio imediata:
- Aqui não se pode errar, o erro é fatal para o navio e sua tripulação. Quem serve num submarino não pode cometer equívocos,esquecimen-
tos ou distrações.
Chegou outro momento: -"Preparar o submarino para superfície. Su-
perfície sem emprego de ar".
O navio toma uma grande inclinação para cima.
- "Na superfície . Abrir a escotilha da torreta".O Comandante é o pri-
meiro a subir, recebendo ainda respingos d"água.
- "Oficial de Serviço e vigias ao passadiço".
Os exercícios e a faina são repetidos e variados,visando a perfeição.
Nem mesmo o almoço interrompe a faina. 1/4 da tripulação almoça e
o restante prossegue nas atividades de bordo.
É incrível, o cozinheiro preparava um vatapá, mas participava da ati-
vidade da manobra, tem sobre seus ombros uma responsabilidade enor-
me, ABRE, FECHA E TRANCA AS VÁLVULAS VITAIS ÀS CONDIÇÕES DE
IMERSÃO. O taifeiro que servia a mesa, na Praça D'ARMAS atrasou-se
no atendimento do visitante, porque é sua tarefa tambem fechar vál-
vulas e portas estanques, por ordens do Comandante ou Imediato:
- "Isolar compartimentos",
A comida é igual para toda a tripulação. Saboroso foi o vatapá.
TUDO que não está em serventia é escamotiável., mesas, cadeiras, banheiros, etc.
Encerrado o exercício, preparou-se o regresso à Base Almirante Cas-
tro e Silva, que fica na ilha de Nocanguê Grande,em Niterói-RJ;seguiu-
se demandar à barra da baia de Guanabara.
Ainda fgora da barra, iniciou-se, na torreta, o cerimonial do batismo
de imersão. O visitante, por ser o único civil a bordo, foi o primeiro a ser batizado.
A Marinha é uma unidade militar altamente organizada e na véspera
da viagem, o visitante foi informado que deveria escolher um nome de
peixe, com o qual seria batizado. Foi escolhido WAHOO, lindo peixe das
águas do Pacífico, dificilimo de ser pescado, destemido. Se constituiu
em sorte, o nome, porque WAHOO fora um submarino americano, de significativa passagem e feitos notáveis na 2ª Guerra Mundial. Tornou-
se uma legenda,simbolo da Marinha Americano,pois jamais foi alcança-
do pelas armas alemães, torpedos, bombas de profundidade, torpedei-
ros, caça submarino, etc.
O visitante leu a proclamação: "Eu, imuno profano, pilhado nas pro-
fundezas dos domínios de Vossa Magestade, Netuno Rex I,penitencio-
me diante vós". Segue-se provando o SAL da sapiência, fazendo-me um esclarecido. Prosseguindo diz: "Peço que me untem com os óleos
sagrados dos peixes, que me farão um forte"
E assim doravante, consagrado com o nome de Wahoo, prometo respeitar ninfas e sereias, conchas e caramujos, enfim todos os seres e
leis do reino de Vossa Magestade. Assim seja".
A grata lembrança que se tem é indelével, daí a maxima do submari-
nista: "USQUE AD SUB ACQUAM NAUTA SUM"!
A grandeza e harmonia que dispensam, dignifica a Marinha e honra a
Pátria.
"O SUBMARINO"
PREÂMBULO. Para aqueles que já singraram os
mares brasileiros a bordo de um SUBMARINO a
narração apresentada não constitui surpresa e
uma aventura, pode sim ter relevantes recor-
dações, mas ao homem comum, que nunca te-
essa oportunidade, servirá de extremados co-
nhecimentos e prazeres inesperados, aumen-
tando sua cultura sobre o singular navio.
Diferente de como o navio é apresentado em
filmes, desenhos e documentários ilustrativos,
não há escotilhas que´possibilite ver o mar na
superficie ou nas profundifdades dos oceanos,
essa visão deslumbrante só através do periscó-
pio, prerrogativa exclusiva do Comandante ou
do Oficial de Serviço que procedem a "varredu-
ra"; tivemos o ensejo de uma vez ter acesso ao
"tubo ótico".
A deferência de estar num submarino é concedi- a qualquer brasileiro, desde que se inscreva pre- viamente na ilha de Mocanguê, onde fica funde-
ada a base submergíveis e haja deslocamento
programado.
É na verdade uma embarcação singular.
"E assim, doravante consagrado con o nome de WAHOO
prometo respeitar ninfas e sereias, conchas e caranu-
jos, enfim todos os seres e leis do Reino de Netuno Rex
I"!
ATENÇÃO ! LARGAR A ESPIA UM ...
Exponho no RECANTO DAS LETRAS algumas emoções vividas a bordo
do SUBMARINO "RIO GRANDE DO SUL" - O PIONEIRO,hoje já desativado.
Por que tornou-se inativo ? O Brasil, pela sua extensão marítima, preci-
sa estar sempre com uma flotilha de submarinos modernos, acompa-nhando o grau de desenvolvimento de outras nações, a fim de poder
defender em igualdade de condições o nosso litoral.
Tentarei reproduzir aos leitores interessados,que não tiveram a ven-
tura de estar num submarino,uma idéia do deslumbramento a bordo,que
culminou com seis (6) imersões, num total de cinco horas, a cerca de
180 pés, nas profundezas do Oceano Atlântico. Tudo é programado e
respeitado. Há uma seqüência de detalhes,que deriva de uma organiza-
ção impar, disciplinada e ordeira.
Içada a Bandeira Nacional, às 8 horas,é que se tem acesso ou saida
do navio. Ainda no cais ouve-se o aviso: "Sinal para a Bandeira", daí em diante começa a faina diária. O Oficial de Serviço,a bordo, dá a voz
de comando: - "Em continência, iça".
Todos os navios ancorados dão repetidos e unissonos apitos. A ban-
deira sobe ao mastro de popa.
A bordo prossegue o cerimonial: primeiro o visitante é recebido pelo
Imediato e Oficial de Serviço, segue-se a apresentação ao Comandan-
te, que à época era um Capitão-de-Fragata, que no momento da apre-
sentação entrega o impresso "BEM-VINDO A BORDO".
A Marinha do Brasil tem sempre o prazer em receber qualquer brasi-
leiro que visita suas dependências, por isso mesmo o impresso diz que:
o visitante é motivo de orgulho para a tripulação, e os homens que servem neste navio tudo farão para corresponder à amabilidade e sen-
tirão prazer em responder a qualquer pergunta, orfientando-o a bordo.
O submarino é um navio extremamente complexo, com equipamentos
estranhos e sofisticados.
Prosseguem os comandos: - "Submarino pronto para suspendar".
Antes dessa manobra, o ato solene, transmitido pelo alto-falante in-
terno, convida o visitante a subir ao passadiço, (parte superior do na-
vio, em que permanecem o comandante, um ordenança, e o oficial de
dia). A tripulação permanece atenta,distribuida pelos "Postos de Sus-
pender". O navio já esta com os motores ligados, atracado apenas pela
ESPIA da proa (parte da frente do navio).
- "Atenção à manobra"!
- "Bombordo (lado esquerdo do navio) atrás 1/3. Boreste (lado direi-
to do navio) adiante 1/3".
- "Bombordo atrás 2/3. Pára boreste. Todo leme a boreste".
- LARGAR A ESPIA UM ! Segue-se um apito longo, que marca o ins-
tante exato que o submarino desatraca.
Singrando as águas da baia de Guanabara,vai deixando a ilha de Mo-
canguê, sucedem-se uma série de cumprimentos pela passagem do "Rio
Grande do Su", são dos submarinos "GOIÁS, HUMAITÁ, e do navio de salvamento GASTÃO MOUTINHO".
- "MAQUINAS ADIANTE, TODA FORÇA"!
Deslocavan-se nas águas da baia as 2.000 toneladas, com 102 metros de cumpimento, no seu iterior a tripulação de 6 (seis) oficiais e
66 praças.
Ao leigo o submarino parece estreito, mas não é. Aquele tinha 10 metros de boca e seus metros de calado.
A primeira comoção, seguida da perplexidade: OS BELICHES ESTÃO COLOCADOS SOBRE OS TORPEDOS, na proa, onde via-se seis tubos de lançameentos, a guarita de salvamento e o ejetor de sinais ficam atrás, na popa.
Rumava-se para a área ALFA,nesta o Comandante quer informações
para IMERSÃO.
O visitante ainda se encontrava no passadiço. Visão deslumbrante, encorajava-se,sentia-se forte,mas a altura que estava da água assus-
tava. O vento ameno, tranquilizava a mente. As pequenas vagas que batiam no casco do navio, davam a idéia da robustes da quilha.
Ao redor, navios de diferentes bandeiras propiciavam observações aos seus passageiros pela passagem do submarino. Um petroleiro,o ma-
gestosos Pão de Açúcar, as fortalezas estrategicamente na entrada da barra, completavam o cenário magnânimo. As nuanças das cores marcavam as pupilas como se estivessemos sonhando.
Ai, veio a voz de comando: - "Submarino pronto para imersão"! No
passadiço,apenas dois vigias e o Oficial de Serviço,os demais já haviam
evacuado aquele aprazível lugar, que proporciona largos horizontes.
Ao visitante só apreensão,qual a sensação que teria,como se com-
portaria ? No preâmbulo chamamos atenção, aquela idéia que se tem,
não é verdadeira, só no ficção cinematográfica, da existência de um grande visor, que daria para ver o fundo do mar...
- MERGULHAR, MERGULHAR; determina o Comandante.
-"TODOS ABAIXO, TODOS ABAIXO".
Em segundos, praças e oficial estão no interior da embarcação. O ofici-
al fecha a última escotilha e comunica:
- "GARRAS PASSADAS".
O Comandante determina a profundidade. - "COTA DE 60 PÉS".
Todos trabalham, até o cozinheiro tem atividade diferente de sua roti-
na na cozinha.
Os homens parecem, naquele momento, um só ser, com dezenas de braços.
Leva apenas um (1) minuto e as 2.000 toneladas estão cobertas por
uma camada de 20 metros d´água. O silêncio é aterrorizante, só a voz do Comandante se ouve: - "IÇA O PERISCÓPIO". "VARREDURA", VARRE-
DURA ! Segue-se a resposta: - "Há um mercante próximo à área".
- "Operador de sonar, acompanhe e informe".
Como visitante não senti nada de anormal. Foi me dado ensejo de ir ao
periscópio.As praias de Copacabana estavam tão próximas,que talvez,
se fosse verdade, poderia sentir suas areias.
Durante o trajeto estivemos em diferentes profundidades, o submari-
no chegou a 180 pés, cujas cotas podem ser observadas nos manôme-
tros.
- Isolar compartimentos".
- Cota de 100 pés. "Manobra 100 pés, segue-se a voz de comando
mais enérgica: "NÃO SÃO 102 PÉS"; EU ORDENEI 100 PÉS, CORRIGIR"1
- Ciente, agora cota de 100 pés.
O lembrado "Rio Grande do Sul" foi o primeiro submarino brasileiro a ter o "ESNÓRQUEL", instrumento que permite usar os motores princí-
pais para propulsão ou carga de baterias quando mergulhado, SEM A POSSSIBILIDADE DE SER DETECTADO.
O submarino é dividido em compartimentos estanques que, quando
fechados, impedem a passagem d'água de um para outro, em caso de
avaria no casco.
Naquele dia, um grupo de alunos oficiais, do Centro de de Instrução e Adestramento de Submarino Mergulho estava fazendo provas. Rispi-
da e exigente a sabatina, sem a menor proteção ou facilidade. As res-
postas a uma saraivadas de perguntas e situações simuladas devem
solucionadas incontinentes. Problemas de emergências são apresenta-
dos como reais. Dos alunos concluintes do curso na Escola Naval, ape-
nas 10% especializam em submarino.Vimos no compartimento de mano-bras um Oficial-aluno de submarino ter sua última chance, sem êxito.
Pareceu-nos que o marujo que ouvia e transmitia as ordens passadas
ao examinando excessivamente impassível, sem um simples piscar de olhos, como a alertá-lo para o equivoco,que o marinheiro sabe pela ex-
periência do dia-a-dia, do erro que ele estava cometendo. Perguntei, depois, na hora do almoço, ao Comandante Dutra, por que tanta seve-
ridade no exame? Semblantes circunspectos, nem uma simples "deixa", a favorecer o examinando, exatamente na sua última oportunidade, do
equivoco que estava cometando. A resposta veio imediata:
- Aqui não se pode errar, o erro é fatal para o navio e sua tripulação. Quem serve num submarino não pode cometer equívocos,esquecimen-
tos ou distrações.
Chegou outro momento: -"Preparar o submarino para superfície. Su-
perfície sem emprego de ar".
O navio toma uma grande inclinação para cima.
- "Na superfície . Abrir a escotilha da torreta".O Comandante é o pri-
meiro a subir, recebendo ainda respingos d"água.
- "Oficial de Serviço e vigias ao passadiço".
Os exercícios e a faina são repetidos e variados,visando a perfeição.
Nem mesmo o almoço interrompe a faina. 1/4 da tripulação almoça e
o restante prossegue nas atividades de bordo.
É incrível, o cozinheiro preparava um vatapá, mas participava da ati-
vidade da manobra, tem sobre seus ombros uma responsabilidade enor-
me, ABRE, FECHA E TRANCA AS VÁLVULAS VITAIS ÀS CONDIÇÕES DE
IMERSÃO. O taifeiro que servia a mesa, na Praça D'ARMAS atrasou-se
no atendimento do visitante, porque é sua tarefa tambem fechar vál-
vulas e portas estanques, por ordens do Comandante ou Imediato:
- "Isolar compartimentos",
A comida é igual para toda a tripulação. Saboroso foi o vatapá.
TUDO que não está em serventia é escamotiável., mesas, cadeiras, banheiros, etc.
Encerrado o exercício, preparou-se o regresso à Base Almirante Cas-
tro e Silva, que fica na ilha de Nocanguê Grande,em Niterói-RJ;seguiu-
se demandar à barra da baia de Guanabara.
Ainda fgora da barra, iniciou-se, na torreta, o cerimonial do batismo
de imersão. O visitante, por ser o único civil a bordo, foi o primeiro a ser batizado.
A Marinha é uma unidade militar altamente organizada e na véspera
da viagem, o visitante foi informado que deveria escolher um nome de
peixe, com o qual seria batizado. Foi escolhido WAHOO, lindo peixe das
águas do Pacífico, dificilimo de ser pescado, destemido. Se constituiu
em sorte, o nome, porque WAHOO fora um submarino americano, de significativa passagem e feitos notáveis na 2ª Guerra Mundial. Tornou-
se uma legenda,simbolo da Marinha Americano,pois jamais foi alcança-
do pelas armas alemães, torpedos, bombas de profundidade, torpedei-
ros, caça submarino, etc.
O visitante leu a proclamação: "Eu, imuno profano, pilhado nas pro-
fundezas dos domínios de Vossa Magestade, Netuno Rex I,penitencio-
me diante vós". Segue-se provando o SAL da sapiência, fazendo-me um esclarecido. Prosseguindo diz: "Peço que me untem com os óleos
sagrados dos peixes, que me farão um forte"
E assim doravante, consagrado com o nome de Wahoo, prometo respeitar ninfas e sereias, conchas e caramujos, enfim todos os seres e
leis do reino de Vossa Magestade. Assim seja".
A grata lembrança que se tem é indelével, daí a maxima do submari-
nista: "USQUE AD SUB ACQUAM NAUTA SUM"!
A grandeza e harmonia que dispensam, dignifica a Marinha e honra a
Pátria.