Aquele Tic Tac
Ficar só enquanto toda a casa dormia, era assim que as suas noites passavam agora. Não gostava, mas nao resistia. Depois daquela xícara de café tão carinhosamente feita por ela mesma era difícil fechar os olhos. Então ia ler, porém estava cansada demais para ler e acordada demais para dormir, só fazia pensar. Sentia-se sozinha, mas também aliviada por não ter nenhum compromisso, nenhuma responsabilidade com outra pessoa. É claro que estes sentimentos alternavam de hora em hora.
Sempre levantava alguém para lhe dizer que não era certo está ali, acordada até tão tarde. Não fazia nada de errado, então para que tanto alarme? Seus olhos enchiam de lágrimas, um ponto franco das pessoas emotivas, ou elas choram ou ficam vermelhas, sempre o organismo dava um jeito de humilhar a pobre criatura.
Se retirava para a cozinha quando sentia sede. E lá encontrava-se ele, imóvel, encarando-a e zobando da sua existência com o seu Tic Tac.
Ela não conseguia evitar, sempre parava na frente daquele relógio e ouvia os seus minutos passarem, sua vida esgotando-se. Toda vez que aquele relógio diminuía o seu tempo e a sua vida diante de sua face, ela questionava quanta a ousadia que aquele objeto possuía. Muitas vezes passou pela sua cabeça em dar um fim aquele maldito Tic Tac, quem precisa disso? Saber das horas já não basta? Temos que saber o quanto já perdemos também?
Mas nunca fez nada, sabia que não seria o certo, que diriam que era louca. Então foi dormir e pensar na existência.