"Um dia de cão..."

"Atirei o pau no gato tô tô (quantos tô?), mas o gato tô, não morreu rreu rreu, dona Chica ca admirou-se se..doberrou doberrou que o gato deu, miau!" e continuava a cantar a maldita música durante a aula, aquele adolescente que irritava a todo momento com suas táticas infalíveis... eu quase cedi...

"Fui morar numa casinhaaaaa, infestadaaaaaa de cupimmmm ...." Aiiiiii minha nossa senhora da Salvação, dá-me paciência para que eu não arremece este apagador na cabeça daquele cidadão!" e eu continuando a esclarecer algumas dúvidas, dos poucos que ali estavam interessados...

Sentei, eu desisto! Quantos minutos faltam para encerrar este "martírio"? Nove? O quê? mais nove minutos de tortura. Eu aguento, tenho que ser forte.

Uma música toca anunciando, depois dos nove minutos, o fim da aula... "glória a Deus", salva mais um dia. Troca de aula, paradinha no corredor, conversa com o professor de física: "E aí, você já aprendeu aquela tortura chinesa nova? Fiquei sabendo que é infalível, deixa o peão de molho durante dois dias!" Risos e enfim, mais cinquenta minutos de aula (ou seria outra coisa).

"Prô, acabei de ler um livro!" disse o aluno mais adorável da sala. Sentindo a minha cabeça tontear (é, acho que a tal da labirintite advém da minha impaciência) sorri maquinalmente para o jovem e perguntei : "Que livrinho você leu, flôr de maracujá? (eles sempre se ofendem com este elogio, são tontos nem imaginam o porque da analogia..hehehehe).

"O doce veneno do escorpião", é foda este livro, prô!" Imaginem minha cara: um misto de descrença com total bom humor, comecei a rir e consegui elaborar uma perguntinha de última hora: "Quanto tempo levou para entender o que ela estava explicando?"... nem vou transcrever a resposta, não é interessante compartilhar as minhas desilusões, é deprimente.

Nove, oito, sete, seis, cinco,quatro, três, dois e ummmmmmm, ueba: almoço!!!!! Corri para a sala dos professores, que por incrível que pareça parece mais uma sala de consultório psiquiátrico: tarja preta, calmante, terapia, antidepressivo...e eu precisando apenas almoçar!

"Vamos, minha Deusa do Pântano!", assim me chamou o Ivair (um professor de História, amigo-irmão). "Péra, deixa eu pegar o meu celular!"... não sei porque, mas hoje eu lembrei que tinha celular! Depois fiquei refletindo: ahhhh hoje é dia dos namorados, por isso eu peguei o maldito aparelhinho. "Ora, mas quem me ligaria?" ... deixei o celular na sala.

Almoço, descontração, risos e lamentos (sempre terminamos o almoço comentando sobre alguns alunos, ô sina!). "Mandei um buquê de rosas vermelhas para a Fofa!", disse meu amigo ao terminar de tomar seu suco de maracujá (que bom, professor tomando suco de maracujá, hahahahaha até parece que adianta). "Ah, ela vai adorar!" Oh, que dureza não ter para quem dar e de quem receber, pelo menos eu economizo...(não é bem assim).

E para finalizar a primeira parte deste meu "dia de cão" tive que pagar a conta! Ainda bem que eu estava a poucos minutos de realizar a parte mais gostosa do dia: tirar uma soneca! Ufa.

Chegando em casa fui logo tirando a roupa e com ela todos os acessórios: brincos, colar, anel etc...Minha cama parece que piscava para mim, fiquei tentada a deitar, mas antes tive que olhar a lista de recados que havia em cima da mesa: "Ligar para coordenadora de escola tal, urgente", "O gerente do banco também quer falar contigo, URGENTE!", adivinha pra quê? Liguei para a coordenadora e ignorei o meu gerente.

Adeus minha soneca: preparar atividades de recuperação, elaborar relatório, preencher fichas e etc.. tudo para hoje? é para hoje.. conclusão: terminei o meu dia na frente do micro digitando provas, relatórios e fichas.

Banho, secador, creme, pinça, micro (não! micro, não)... sem condições para escrever resolvi contemplar o céu com a minha presença: subi na parte mais alta da casa e fiquei observando o findar da tarde, até que meu furacãozinho chegou!

Agenda de escola, lição de casa, novidades, broncas e mais dinheiro para gastar em festinhas. Ufa, que vida corrida!

E para fechar a minha noite com chave de ouro fui "intimada" a levar minha mãe para ensaiar a dança da Festa Junina: "Olha a cobra! uhhhhhh! A mulherada da terceira idade tem mais pique do que eu, haja fôlego, fora as gracinhas na hora da dança (pelo menos eu me diverti muito). Retornei anciosa para concluir este texto e ..... esperar até a meia noite alguma coisa acontecer....

* Não seria uma crônica e sim um relato, mas qualifico-a assim porque retrata o dia-a-dia de uma pessoa comum. O dia de cão é sempre assim, mas confesso que há dias irresistíveis...