O DISCUSO DO MALANDRO
Fiz parte de uma patota de malandros que nunca quis nada com os estudos. Terminamos o curso ginasial na marra (é o único diploma que possuo). Na quarta-série, dos quarenta e tantos alunos, 25 eram repetentes, inclusive eu. Devido às pressões familiares, estávamos fazendo um esforço tremendo para concluir o curso. Mas um dos nossos colegas, justamente o mais popular e comunicativo, um contador arretado de piadas e causos, a alegria da turma, estava mesmo pela bola sete, tudo levava a crer que iria repetir mais uma vez a série. Resolvemos ajudá-lo. Mas como? Os nossos "saberes" só davam mesmo para o consumo próprio. Foi aí que um sujeioto caladão mas muito sabido, um grande observador e curioso, chamou alguns de nós e disse que só havia uma alternativa para salvar o nosso malandro da reprovação: seria escolhê-lo orador da turma. E explicou: o orador da turma mesmo tirando notas insuficientes, o colégio sempre completavva as notas porque os convites para a formatura estam impressos àquela altura, distribuídos, e mudar o orador pegava mal para o colégio. Havia uma professora de francês, uma mulher muitoevoluída e boa praça. lliberal, que nos ajudava e sempre nos dava boas notas sem merecermos, era nossa amiga. Fomos a ela e expomos o plano. Ela riu e foi conivente, disse que podia dar certo. Mas acrescentamos um detalhe: faltava o principal, o discurso, era isso que queríamos que ela providenciasse, esse discurso teria que ser nos trinquues pporque passava antes pelo crivo do diretor, um sujeito muito caxias. Ela concordou mas disse que não era a sua praia, mas seu marido um cara boêmio e metido a poeta, que bebia feito uma esponja, ajudaria. Dito e feito, quando estava sóbrio, de ressaca, a gene ia na casa dele e o cara ditava trechos do discurso que a gente iia copiando com cuidado. Lembro do começo do discurso, algo chatíssimo: "Na madrugada da vida quando ainda somos barquinhos trepidando no mar rebelde...". Barquinho trepidando? . Depois chegou um parte de dificuldades e ee citou o inferno de Dante, mais adiante o renascimento, botou a tal Fênix, a luta pela liberdade citou Castro Alves e a gente copinado, até que chegouno fecho que ditou entusiasmado: "E agora, senhores e senhoras, caros colegas, como disse César quando decidiu cruzar o Rubicão: alea jacta est. Tenho dito". Copiamos, e entregamos tudo a professora que datilografou, então o malandro submeteu a peça oratória ao diretor, foi aprovada, tudo nos conformes. Como se esperava o malandro tirou notas decepcionantes, mas o colégio completou e ele passou no pau do canto.
Chegou o grande dia, a formatura, o malandro estava radiante - como todos nós ´vestido num terno azul-marinho e com o discurso nas mãos. Na hora do discurso, ele leu calmamente o texto, com voz pausada, dentro do figurino, as pessoas gostando, admiradas, mas no final, no fecho, ele se entusiasmou e resolveu dar um toque pessoal, algo do fundo do seu coração, precisava homenagear duas pessoas que muito o ajudavam , sua tia e o esoso dela, um sargento da polícia apelidado de sargento Cesarão, que era conhecido como malvado. O malanro falou entusiasmado: "E agora, senhores e senhoras, caros colegas, como costuma dizer César, o marido de minha querida tia quando vai comwer Rubacão: alea jacta est. Tenho dito". Aspalmas comeram no centro, as pessoas adoraram a mençção à tia dele e ao marido dela. O diretor ficou uma fera mas não podia dizer nada, a professora de francês e o seu poeta bêbado engasgaram de rir e nós sentiimos aspenas alívio. Era agora cair na farra.
Nota: Rubacão é baião de dois, comida ~feita com arroz e feijão, realmente o sargentão adorava esse prato.