LISBOA REVISITADA
Estava novamente em Lisboa. Era terça-feira 24 de fevereiro de 2015, viajei de Madrid até Lisboa a madrugada toda. Chego pela manhã, eu e o Adriano, um brasileiro que mora na capital espanhola que conheci nas paradas de ônibus, quando saíamos para fumar, ele ia para uma exposição do Brasil, nos conhecemos ao perceber que eu era brasileiro e logo começamos a falar sobre o Brasil, o caos, a miséria moral do país, a corrupção, insegurança, desigualdade, esses temas que são comuns e já tão clichês, mas que para nós brasileiros é uma tortura, uma indignação só, nada nunca se resolve, ele me contou durante uma dessas paradas que tinha uma empresa que faliu por não ter como pagar propina, enfim. Desembarcamos de manhã bem cedinho umas 05h40min, a cidade estava acordando e logo fomos informados que metrô estaria paralisado naquele dia, era um protesto contra o governo. Esperamos e pegamos um ônibus, eram 06h00min ou 07h00min da manhã quando chegamos ao hotelzinho Portal do Sul, que fica na Avenida Almirante Reis, no centro da cidade. A capital portuguesa estava com seu céu azul anil, encoberto por nuvens densas e negras, chovia e fazia um frio de inverno. A cidade começa a acordar pra valer. Escutava as sirenes de ambulâncias subindo e descendo a Avenida. Do quarto do hotel era possível ver os "elétricos" a circular ladeira acima ladeira abaixo dobrando a rua onde ficava o hotel. Era inverno e um frio gélido se espalhava... A velha cidade se despontava nas fachadas das casas da velha Mouraria, Lisboa era um burburinho só. Adriano me chama para comer algo, tomamos cervejas e comemos um galeto preparado por um brasileiro. Fui dormir. Mais tarde liguei para o amigo Luís e à noite fomos comer um peixe na antiga zona portuária. Lisboa já era minha conhecida... Mas cada vez que lá vou além de visitar o Café Braço de Prata, comer os pastéis de Belém, e de tomar um trago no Café “A Brazileira", dessa vez andei muito de "Elétrico" o típico trem lisboeta. Numa dessas andadas acabei parando na estação da Igreja da Estrela, Vista de fora, esta é a igreja mais vistosa e monumental de Lisboa. É uma basílica neoclássica com uma grande cúpula construída em 1790 em agradecimento pelo nascimento do filho de Dona Maria I. O interior é coberto de mármore e inclui o túmulo da rainha, assim como um enorme presépio barroco com mais de 500 imagens (o maior do país) criado por Machado de Castro.
É por vezes possível subir até ao terraço junto da cúpula para vistas sobre a cidade. A basílica é uma das paragens principais dos eléctricos 25 e 28, e tem um jardim encantador do outro lado da rua, o Jardim da Estrela. . Entro na Igreja, contemplo seus portais, e saio e de lado subo uma escada que permite que se chegue até o terraço. Confesso que subi as escadas e cheguei até perto do sino e se quisesse era só atravessar mais um terraço e assim ter acesso ao pórtico por dentro , mas tive medo, sou claustrofóbico, e então voltei escadas abaixo, , a descida parecia uma eternidade e o coração palpitava por estar num lugar alto e estreito, pois mal dava para passar o meu corpo. Finalmente encontro-me no chão e saio pela avenida e dobro à direita passo por uma manifestação contra os baixos salários dos bombeiros lisboetas, a música que ecoa dos alto-falantes é triste e de pesar, os bombeiros reivindicam salários; tomo uma água e um café na padaria da esquina e o garçom, ao perceber que sou brasileiro, me informa muito simpático que estou próximo a última residência onde viveu Fernando Pessoa, me emociono e lá vou visitar a casa do poeta. Sento nos seus móveis e meu coração pulula quando vejo que estou onde outrora viveu Pessoa...vejo fotos, leio artigos sobre a sua vida; enfim saio dali absorto, e vou tomar outro elétrico para ir para a Almirante Reis onde ficava o hotel, mas que nada! Pego o elétrico errado e por coincidência desço na Brasileira o café que Fernando Pessoa frequentava... Lá tomo uns goles depois desço rua abaixo, os pés me doíam, os calos estavam insuportáveis, mais ainda assim sigo com meu andor, vou mais em frente e logo avisto uma praça linda que dava para o rio Tejo, sento num café já meio esbaforido, peço um vinho e pergunto se tem algo para comer, claro que sempre tem, para os portugueses é um assinto perguntar estas coisas em um país onde se come bem e barato. O garçom me traz a carta e logo converso com ele e peço um bacalhau à portuguesa... E ele faz o pedido e começamos a prosear, perguntei sobre a história daquele café, ele me disse "aqui é o café mais antigo de Portugal, foi também o lugar onde Fernando Pessoa esteve à última vez antes de morrer", disse é sério?! Fiquei meio entre extasiado e atônito já que por acaso ou destino da sorte passei em três lugares importantes para o poeta F. Pessoa, a Casa de Fernando Pessoa, o café “A Brazileira", e agora o famoso café Martinho da Arcada o lugar onde o poeta comeu, conversou tomou uns tragos e saiu de lá para a morte dias depois. Logo entrei no café tirei fotos na mesa predileta do poeta, tirei fotos e fotos e me sentei para comer aquela bacalhoada com vinho em homenagem ao meu poeta predileto. (...)
Labareda
Enviado por Labareda em 16/05/2015
Reeditado em 14/06/2015
Código do texto: T5243445
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