Padre Luís Gonzaga de Oliveira

          A Paraíba possui dois grandes padres Luís Gonzaga; um, de Oliveira; o outro, Fernandes, ex-professor emérito de Filosofia, da UFPB, ex-bispo de Colatina (ES) e de Campina Grande (PB); ambos ilustres intelectuais paraibanos. Agora, a Academia Paraibana de Letras comemora, em comitiva (Damião Ramos Cavalcanti, Ângela Bezerra de Castro e Luíz Gonzaga Rodrigues), nas terras dos potiguares, admirando a Serra da Copaoba, o centenário do Padre Luís Gonzaga de Oliveira, nascido em 1915, no Engenho Lameiro, nos limites de Serra da Raiz. Assim dizia ele: “Tempus fugit” , e aprendi: carrega consigo, como se fosse uma locomotiva, comboios cheios de coisas, de bichos e lotados de pessoas, em curtos e longos espaços, em relativas e infinitas distâncias. Era quase ontem, quando o Professor e amigo Padre Luís vinha às suas terras fazendeiras para ganhar alegria e amor à natureza e mais ares às nuvens das baforadas soltadas pelos seus costumeiros e grossos charutos. Levando-nos na sua caminhonete, Jackson Carvalho o sabe, parava no campo: “Meninos, vejam! Existem prazeres além do forte desejo que perturba o celibato”. Gostávamos dessas tiradas, licenciadas no Seminário apenas às bocas dos mestres como ele, o que nos levava à reflexão...
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a aula de Literatura, nutria predileção pelos épicos; suas aulas eram admiráveis: recitações de Camões ou citações dos textos dos Sertões, de Euclides da Cunha, quando declamava como se fosse poesia: ”Canudos não se rendeu. Exemplo  único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado  palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.
          Ensinava também História do Brasil, embelezando mais ainda as já bem escritas páginas de João Ribeiro. Ao seu modo, pinçava as gulodices de Dom João VI e as virtudes dos jesuítas convivendo com os indígenas ignorantes da moral judaico-cristã em relação sexo: “Meninos! Anchieta via, mas nunca tocava as índias nuas, sem algum cabelo além daqueles brilhosos e estirados na cabeça. Não fixava os olhos em alguma parte, apenas mirava o todo ou a natureza banhando-se no rio. Anchieta pisava no lodo, mas não resvalava no pecado... Meninos! Esqueçam! Lembrem-se apenas das virtudes de Anchieta”. E hoje, seus ex-alunos, seus confrades da APL, após cem anos passados, da sua significativa existência, lembram-se das suas ideias, das suas ações, das suas palavras; sobretudo, da sua erudição e da sua “ineffabilis et intellectualis anima”, como escreve Platão: alma de dirigente. Reconheçamos: capaz de nos dirigir por brilhante caminho...