A PÁSCOA DAS DUAS SENHORAS

Não há mais o que fazer. Diante da tragédia ocorrida na quarta-feira a visão é concludente:

_Não há mais o que fazer!

Duas senhoras foram atropeladas por um ônibus de linha, às 06:30, enquanto caminhavam em seu bairro e tiveram morte imediata. Segundo testemunhas, de maneira inexplicável. Horas depois, câmeras de segurança na avenida, ao longo do trajeto tentariam reconstituir os instantes que antecederam ao acidente fatal.

Tentariam!

Diariamente, motivadas pela vontade de viver mais e melhor, as amigas se encontravam na calçada, eram vizinhas, e partiam determinadas para cumprir o circuito aeróbico sabido de cor e salteado.

Para elas, agora, hipoteticamente, depois do ocorrido se fossem questionadas, afirmariam não ter mais tempo para diminuirem ou acelerarem a velocidade de seus passos no momento da fatídica travessia de rua, ou para fazerem uma pausa na animada conversa antes de atravessarem a faixa de areia aberta naquele imprevisível mar. Bem como também não haveria mais tempo de o motorista ao volante, com experiência comprovada e reconhecida em 25 anos de profissão refazer ao volante a curva fatídica ou optar por uma mudança extraordinária no itinerário, evitando assim o impacto fatal.

_Não há mais o que fazer! Diria uma das senhoras.

_Não há mais tempo! Exclamaria a outra.

_Mas, peraí, domingo é Páscoa! Falariam as duas juntinho e se abraçariam em paz.

Assim imagino Irene e Vaninha, as duas senhoras, seguindo em frente rumo ao tempo eterno do a deus, mas não sem antes deixarem uma mensagem de amor a todos os seus familiares, amigos e ao senhor motorista nesse momento de grande dor:

_ Sejam felizes, sigam em frente!