O mínimo de Lula
Em anos ainda fernandenriquianos escrevi mensalmente para uma entidade denominada SingBrasil, formada pela comunidade de brasileiros e assemelhados residente na ilha-estado de Cingapura.
Os escriptos consistiam num apanhado de informações de interesse geral e local e buscavam primordialmente o entretenimento de um grupo de expatriados que embora difícil de se quantificar dada sua natureza cambiante, mas que, por alto, a gente estimava em torno de umas cinquenta cabeças, petizes incluídos.
Eram, via de regra, profissionais altamente qualificados empregados de multinacionais, ou cônjuges seus, comumente decorrentes de casamentos binacionais. Havia também alguns jogadores de futebol que, não tendo chances de figurar num Barça ou Manchester United da vida, contentavam-se com um salário ligeiramente inferior...do qual, o técnico - dizia-se - extraía ainda o seu quinhão.
E as crônicas, primando pela corretezza política, pareciam ter boa aceitação, mas nenhum leitor ousou registrar nada por escrito. Talvez não quisessem correr o risco de empapar a pena.
Mas como tudo que é bom, pouco dura, minha lua de mel com a popularidade ganhou um rude golpe quando, na empolgação de registrar a vitória lulista nas presidenciais de 2002, estatuí que uma coisa era segura da parte do presidente-eleito: ele não iria jamais cortar o mínimo, pois já sentira na própria carne os efeitos danosos dessa política...