SER PREFERENCIAL E A BRASA DA MINHA SARDINHA

Hoje, pela manhã, fui ao DETRAN com a finalidade de transferir um veículo para meu nome. Antes, havia ido a um despachante que, entre taxas, custas y otras cositas más avaliou o processo em quinhentos reais, mais ou menos. Minha mente, de imediato entendeu: custará mais. Essa seria a lógica atual, caso eu fizesse o trabalho via despachante. Afinal, ele tem que alimentar os filhinhos.

Nós, daqui de casa, também temos que trazer o pão de cada dia. Então, botei a mão na massa.

O preço da referida transferência caiu sensivelmente. Dos quinhentos avaliados, paguei duzentos e seis reais, mais algumas taxas pequenas. Enfim, livramos o leite das crianças. Das nossas, é claro. Porque assim é a vida, se não puxarmos a brasa para nossa sardinha, teremos que comê-la crua. Certamente o despachante também já livrou algumas brasinhas hoje, essa é a luta de quem não habita a região Planaltina do país.

O que mais eu gostei desse episódio, foi quando o rapaz do balcão, onde as senhas são distribuídas, analisou meus documentos e entregou-me a senha, na qual constava PREFERENCIAL.

Tive uma vontade imensa de perguntar a ele o porquê de PREFERENCIAL. Foi ótimo não ter perguntado! Encaminhei-me para o cantinho vazio dos PREFERENCIAIS. Eu já seria a próxima atendida, enquanto os não preferenciais lotavam o salão. Em seguida, chegou outra senhora PREFERENCIAL. Olhei para ela e entendi a preferência. Ela resmungou algo e disse: “a gente fica velha e já começa a ser excluída”... Achei-a bem idosinha (risos, meus).

Hoje debutei minha primeira oportunidade, depois que me tornei sexagenária. Aos sessenta anos sou PREFERENCIAL e, pasmem, gostei disso. Afinal, em algum espaço há um reconhecimento merecido, sem falsa modéstia.

Saí daquela repartição bem feliz com minha festa de debutante. Até me esqueci das dores nas juntas e da artrose. Fui a uma loja de móveis rústicos e comprei uma adega para armazenar meus vinhos, quero comemorar todos os momentos dessa prerrogativa, que agora tenho e amanhã irei à CMTU providenciar minha carteirinha de PREFERENCIAL. Comprarei medicamentos com preços menores, para trabalhar sem dores e continuar livrando minha sardinha assada. E de quebra, estacionarei na vaga de idoso, pois não está fácil estacionar na cidade. Agora, tenho preferência.

Estou seriamente pensando em ir ao despachante e agradecer pela oportunidade dada, fazendo-me colher a ficha (que ainda não havia caído) de que sou PREFERENCIAL. Se me cobrar uma taxa por isso, pago com prazer.

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 14/05/2015
Reeditado em 14/05/2015
Código do texto: T5241496
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