A latere 1
A Intuição
Há verdades que se sentem e pressentem, que surgem no nosso espírito indubitavelmente firmes e que, não obstante tudo isso, não se podem provar. Nunca serão racionais, nunca se poderão tornar documento que valha para mentes rigorosas ou gente de espírito geométrico. Podem ser poesia, intuição, horoscópicas certezas, artes do improvável que cresce em nós como parede intransponível. É como correr na estrada que o escuro não deixa ver. Impossível é provar que ela está lá e, ainda assim, corremos, ainda assim temos a certeza de que a nossa pressa é segura.
A intuição é mágica. Alguns tentaram que fosse apenas a resultante geral de um somatório de mínimas informações subliminares acumuladas no subconsciente. Juntas, de repente, exigiam vez e voz e diziam, aos gritos, a intuição. E evitava-se o perigo, a viagem, o casamento a rasar o sim, a queda. Assim, a intuição, de puro ato de magia passava a ser tão mensurável como um quadrado perfeito. - E a magia? - Não existia. Era tudo matemática. A intuição não podia proibir-se mas saia morta da refrega. Se não fossem os loucos, os meninos e os poetas, a intuição acabava. Assim, apenas trocou de nome e veste roupa nova. Chama-se agora poesia.