Notícias de Miguel
Notícias de Miguel
Miguel conta que o glamour da existência mais o elenco de itens que deixava parte dos humanos naturalmente eufóricos doravante caminha para a opacidade. Em uma base acelerada e regular os muitos aspectos do self lutam como podem para equalizar minguado equilíbrio. Difícil tarefa. "Isso coloca muito estresse e pressão no recipiente terreno", diz ele mascando chiclete.
Miguel já foi um menino magro, de chinelo de dedo e bermuda, com uma 45 no bolso, atirando bem na cara de um passante a troco de dinheiro de pinga para não dizer de crack. O tipo que o mandou pro cemitério arrotou com palavras menos rebuscadas que compaixão infinita também equivale a infinito depósito de lixo, e chega!!
Ao dormir Miguel flutua para Siriús e frequenta a Escola Detox 5, onde se ensina que pessoas verdadeiras e honestas umas com as outras incorporam uma crença geral na prática de valores como integridade, decência e virtudes. Sai do curso revigorado e retorna à Terra. Cinco da manhã está no batente, faz-se rabino num país tórrido, sem fontes murmurantes, lendo em voz alta o Talmude para camelos extenuados: "Quem salva uma só vida é como se tivesse salvado o mundo inteiro; quem destrói uma só vida é como se tivesse destruído o mundo inteiro".
Para ele o tempo passa de vários jeitos, ficou para trás o estado de transformar, quando calmo consegue o estado de ser, ser lhe basta, afinal, não se transforma o que é perfeito. Para ele o tempo existe em estruturas, nalgumas é fluido e maleável, noutras, retilíneo, desenhado para acontecimentos.
Ele coleciona acontecimentos. Já usou gravata e moveu montanhas. De farda, não deixou pedra sobre pedra e foi aclamado. De bermuda inspirou canções, na cozinha foi um desastre e nas artes, um espadachim.
Miguel acorda. Está com o chinelo de dedo, a bermuda, dá pela falta da 45, sente o de sempre sem perceber o que sente: confuso, exausto, sem dinheiro, sem nada, pessoas não gostam dele, do seu lay-out, do seu odor. Em breve dormirá de novo. Ah, o descolamento até Siriús, chega a tempo de ouvir a temática de um brilhante professor: Vocês são soberanos. Vocês não vão voltar nem pra própria unidade, porque vocês vão descobrir que vocês não são Um. Vocês são Muitos. Assim, não vão se atirar numa alma macia de algodão doce que faz tudo por vocês. Ela não vai estar lá. Assim como Deus não estará lá, a alma não estará lá, porque esses são conceitos humanos. Essas são construções humanas – precisar de um salvador. Vocês estão indo pra os Muitos de vocês, e isso é de uma liberdade imensa, uma benção enorme.
Miguel baixa as pálpebras, somente para abri-las de novo noutro lugar. Se vê no espelho com uma camisa branca. Seus olhos são verdes, sua tez bronzeada, desfila pelas ruas sonhando no dia que verá apenas mortais infundidos pelo Espírito conversando diversidades de verdades, uns inclusive alardeando ser preferível deixar as coisas acontecerem ao invés de tentar controlá-las.
Miguel não reclama. A vida é uma coisinha que escapa das mãos quando não se sabe. Quando se sabe, pode ser conduzida como algo que não tem nome, entendida como fato desprovido de freio e saboreada como o morcego no escuro que, não obstante, voa.
(Imagem: Giovanni di Paolo, A Criação do Mundo e a Expulsão do Paraíso, 1445, Tempera e ouro na madeira)
Notícias de Miguel
Miguel conta que o glamour da existência mais o elenco de itens que deixava parte dos humanos naturalmente eufóricos doravante caminha para a opacidade. Em uma base acelerada e regular os muitos aspectos do self lutam como podem para equalizar minguado equilíbrio. Difícil tarefa. "Isso coloca muito estresse e pressão no recipiente terreno", diz ele mascando chiclete.
Miguel já foi um menino magro, de chinelo de dedo e bermuda, com uma 45 no bolso, atirando bem na cara de um passante a troco de dinheiro de pinga para não dizer de crack. O tipo que o mandou pro cemitério arrotou com palavras menos rebuscadas que compaixão infinita também equivale a infinito depósito de lixo, e chega!!
Ao dormir Miguel flutua para Siriús e frequenta a Escola Detox 5, onde se ensina que pessoas verdadeiras e honestas umas com as outras incorporam uma crença geral na prática de valores como integridade, decência e virtudes. Sai do curso revigorado e retorna à Terra. Cinco da manhã está no batente, faz-se rabino num país tórrido, sem fontes murmurantes, lendo em voz alta o Talmude para camelos extenuados: "Quem salva uma só vida é como se tivesse salvado o mundo inteiro; quem destrói uma só vida é como se tivesse destruído o mundo inteiro".
Para ele o tempo passa de vários jeitos, ficou para trás o estado de transformar, quando calmo consegue o estado de ser, ser lhe basta, afinal, não se transforma o que é perfeito. Para ele o tempo existe em estruturas, nalgumas é fluido e maleável, noutras, retilíneo, desenhado para acontecimentos.
Ele coleciona acontecimentos. Já usou gravata e moveu montanhas. De farda, não deixou pedra sobre pedra e foi aclamado. De bermuda inspirou canções, na cozinha foi um desastre e nas artes, um espadachim.
Miguel acorda. Está com o chinelo de dedo, a bermuda, dá pela falta da 45, sente o de sempre sem perceber o que sente: confuso, exausto, sem dinheiro, sem nada, pessoas não gostam dele, do seu lay-out, do seu odor. Em breve dormirá de novo. Ah, o descolamento até Siriús, chega a tempo de ouvir a temática de um brilhante professor: Vocês são soberanos. Vocês não vão voltar nem pra própria unidade, porque vocês vão descobrir que vocês não são Um. Vocês são Muitos. Assim, não vão se atirar numa alma macia de algodão doce que faz tudo por vocês. Ela não vai estar lá. Assim como Deus não estará lá, a alma não estará lá, porque esses são conceitos humanos. Essas são construções humanas – precisar de um salvador. Vocês estão indo pra os Muitos de vocês, e isso é de uma liberdade imensa, uma benção enorme.
Miguel baixa as pálpebras, somente para abri-las de novo noutro lugar. Se vê no espelho com uma camisa branca. Seus olhos são verdes, sua tez bronzeada, desfila pelas ruas sonhando no dia que verá apenas mortais infundidos pelo Espírito conversando diversidades de verdades, uns inclusive alardeando ser preferível deixar as coisas acontecerem ao invés de tentar controlá-las.
Miguel não reclama. A vida é uma coisinha que escapa das mãos quando não se sabe. Quando se sabe, pode ser conduzida como algo que não tem nome, entendida como fato desprovido de freio e saboreada como o morcego no escuro que, não obstante, voa.
(Imagem: Giovanni di Paolo, A Criação do Mundo e a Expulsão do Paraíso, 1445, Tempera e ouro na madeira)