Omnes vulnerant, ultima necat
É o dito latino das horas: todas ferem, a última mata. Apesar da aliteração na tradução - que soa mamata... - é a verdade, e não é cascata. Onde me criei, cidadezinha de seus vinte e poucos mil habitantes, há, na torre da matriz um antigo relógio que badala, implacável, ressoando sobre toda a urbe a passagem das horas. É um som metálico, agudo e breve. Raramente pára por motivo de algum conserto ou ajuste.
Verdade que perde para os atuais relógios e crônometros eletrônicos no quesito precisão, mas ganha deles disparado na estridência e abrangência.
A matriz, de estilo neo-gótico, foi inaugurada em 1921, construída que foi após um incêndio monumental que destruíra sua antecessora em 1914, que, fotografias atestam, era ricamente ornada e rebuscada em seu interior, embora de fachada mais singela.
O relógio teria surgido com a nova construção, mais imponente na sua altura e estrutura, e ganhou o gosto da população. Da hora do parto, a mais querida, à hora da partida, a mais doída.