Consumo

Os filósofos antigos já buscavam explicar o fato de nós buscarmos a nossa identidade a partir da percepção do que temos, mas não do que somos.

O que nós somos está intimamente relacionado aos nossos valores, crenças e vivências... o que temos é relativo. Primeiro, porque haverá quem tenha menos, mas sempre haverá quem tenha mais. Segundo, porque eu posso acreditar ter de tudo sem nada ter.

A mídia e o desenvolvimento tecnológico, que muito contribuem para o desenvolvimento e o progresso da nossa sociedade, se tornaram perigosos porque trouxeram a falsa ideia de que é possível “consumir” tudo aquilo que nos falta. Assim, nos tempos atuais, se consome educação ao invés de adquiri-la. Criam-se máscaras baseadas em nosso padrão de consumo e corremos o risco de que o nosso Eu fique tão escondido que nos percamos de Nós mesmos.

A mídia nos vende emoções. Mas qual é o ser humano que tem uma vida completamente emocionante? O termo felicidade é, muitas vezes, trabalhado de forma ardilosa e nos dá a ideia de que uma vida de emoções deve ser o nosso objetivo maior... só que a vida é feita da rotina, da calmaria, do dia a dia que nos ensina entre outras coisas, o valor do tempo, da espera, de um bom papo...O problema é que insistimos em buscar essa tal felicidade vendida pela mídia.

Para sermos felizes a mídia criou a ideia de que temos que consumir. É como se a nossa felicidade dependesse do número de viagens que fazemos (e não a qualidade delas), o tipo de corpo que temos (ainda que tenhamos sido submetidos a cirurgias desnecessárias e procedimentos estéticos agressivos) e ainda o número de pessoas curtindo os seus “posts” nas redes sociais (ainda que você não conheça nem a metade delas).

É cada vez mais raro encontrarmos amizades longas mantidas a base da convivência real. Poucas resistem ao What´s up, Facebook e outros programas que foram criados para diminuir, mas contribuem pouco a pouco para aumentar a distância entre as pessoas. Há um ganho nas relações virtuais, mas uma queda nas relações humanas, afetivas, no contato olho a olho.

Não pense que sou contra a tecnologia. Ao contrário, aprecio e utilizo bastante as ferramentas tecnológicas disponíveis. Só acho que nós não nos preparamos para tanta tecnologia. É muita tecnologia para baixa estima e alta fragilidade. E o homem usa, mas sem saber, o que a tecnologia proporciona.

A necessidade de ter é tamanha e a incapacidade de tudo ter cria uma geração frustrada, ansiosa, deprimida... compra-se pelo comprar e depois se pensa em como vai pagar, gerando um problema real e social.

Como diz a música: “– Vida de gado! Povo marcado, povo feliz!”, nossa vida é pautada no desejo coletivo e não nos nossos reais interesses e necessidades. Temos muita necessidade de sermos aceitos. Não se valoriza mais o intelecto como antes. Pensa-se muito mais na aparência física do que no conteúdo e, com isso, as relações ficam cada vez mais superficiais.

O Natal já não é do menino Jesus, o ano novo já não é de renovação... para todas as datas temos uma desculpa para consumir algo. E é preciso tomar cuidado para que o consumo desenfreado não nos consuma.