O Vazio
Há tantos vazios que são plenos de sentido, que até mesmo aqueles vazios que são existenciais podem, de repente, raiar num extraordinário efeito criativo, coisa de se ser e engrandecer.
Um vazio: conjunto de nulas funções. O vazio: o nada absoluto, o terrível imaginar dos que não esperam sucumbir. Entre esses vazios, porém, o fundamento reinante que espera se impor: a construção de um significado, a busca por uma definição.
Não estamos pensando ainda na angústia, esta forma prática e particular do vazio perante a possibilidade real de escolher. Dê possibilidades a alguém e veja, de todos os lados, abrirem-se fendas vazias, precipícios mutilantes de opções que se apresentam, fundas e ocas.
O silêncio – vazio da voz, reino absoluto do desprezo à melodia harmônica/desarmônica da vida. O inexprimível inefável (a redundância, aliás, é um efeito duplicado de sentido que inutiliza e esvazia sempre o mesmo referencial) é o vazio aterrador da linguagem diante da experiência incomunicável. Ah, Vazio, esse fundo sem fundamento que mistifica o nada.
Certos vazios, no entanto, são inevitáveis. Por exemplo, o que antecede todo ato criativo. No princípio, era o vazio e, do nada, veio o verbo, povoando o silêncio com a voz da salvação, veículo de transcendência do caos. Caos e vazio, aliás, irmãos gêmeos, moradores do absurdo, seres paradoxais ansiando um sentido...
Esvaziada de sentido, encerro esta pequena crônica reflexiva, afundando-a no pântano incriado dos que, em vida, foram plenos de vazios.