A Alegria
A alegria é a experiência bem realizada do de-repente. Possui natureza esfuziante e assustadiça e, por isso mesmo, dá-se no imediato, mediante o susto ao sério. Saudadear momentos alegradores é, pois, uma retomada inútil e tão triste quanto carrega a palavra “nostálgica”: ser feliz, só mesmo na instantaneidade do improvável, película do invisível maravilhar-se, movimento de deflagração e sumiço.
Por isso a alegria é perseguida – e, com sua sabedoria irônica, se esgueira, célere, para as grutas das expectativas frustradas – e quase sempre não encontrada. Um ensaio sobre a felicidade é bizarro e estúpido, impossível e profano. Constantemente felizes apenas os animais, que vivem a simultaneidade do eterno, no aqui-já, não sabedores do implacável fim que nós, humanos ridículos, nos destinamos, cientes ou não. Júbilo como finalidade – uma triste iniciativa dos que não entenderam a arte abrupta do chiste.
Portanto, saudemos o instantaneísmo nosso de cada dia, o inédito, a revelação do inesperado: o descortinar-se da beleza, moldura insuspeitável que dá vivacidade ao espírito. Podemos pensar que escolhemos certas alegrias na nossa vida, mas, em verdade, somos arrebatados para o seu momento de glória, escolhidos para o riso arruinador do siso, sempre ignorantes e descuidados para o sutil fenômeno do contentamento, matéria imprevisível que reprova a muitos na cômica escola da vida.