A Esteira
Carlos Sena



Sempre que vou pegar as bagagens na esteira do aeroporto me vem à mente inúmeras coisas. Nessa última vez a esteira ficou rodando, rodando e as pessoas, aos poucos, pegavam as suas bolsas, sacolas, malas. Quando me dei conta da minha "malinha" vi que ela estava quase sozinha desfilando para quase nenhuma platéia. É que eu me perdi em mim pensando que a esteira era como se fosse a vida: de repente o tempo roda e a gente morre, ou se encanta, ou vira purpurina, ou... E a vida passa naquela esteira como se Deus pegasse uma "mala" depois outra e mais outra e nos levasse para o outro lado da eternidade. Mas, mesmo assim, a gente imagina que "Deus" possa pegar a nossa bagagem errada, como de fato isso acontece nos aeroportos. Só que na "esteira" da vida também não escaparemos. Chegará a vez de pegarem em nossas "alças" e nos jogarem rumo às estrelas... E não haverá erro de sermos trocados por outra pessoa em nosso lugar.
Então, eu fiquei absorto imaginando que se o mundo é uma bola, ou um moinho, por que não pode ser uma esteira? Porque a própria esteira tem dois lados: um de dentro e outro de fora, um claro e um escuro, um céu e um inferno. Ou não?

Carlos Sena