PROJEÇÕES

Entre o meu mundo e esta noite, uma vidraça. Do lado de cá, uma movimentação anti-horária, marcada pela pulsação quase inaudível dentro das veias. Lá fora, a chuva, desenhando com suas gotículas pontos de fuga na janela. Os faróis dos carros que passam projetam para dentro do quarto escuro e sobre as paredes, as linhas desse mapa (feito de chuva e luz). Meus olhos testemunham a urdidura dessa catarse absurda. Com um movimento largo dos braços, empurro minha sombra para o lado de lá. Sinto o frio na ponta dos dedos e aquela sensação antiga de se querer deixar molhar pela chuva. Mudo de estado. Liquefaço-me. Feito poça, reflito o céu nos olhos e escorro até a boca. (A chuva lá fora, todavia, já cessou, transformada em poesia)