GAMOC, muito prazer!

Como iniciar a escrever se estou num turbilhão de emoções, que partem de todos os sentidos?

Tento, aos poucos, me imaginar como cada animal da Técnica do Gamoc, ora sou um Gato, ora um Morcego, ora uma Águia e ora o animal que mais amo no mundo: o Cachorro. Ao longo da minha escrita, explicarei esta técnica.

Entretanto, para escrever minha experiência com a Gamoc, é preciso parar e pensar, organizar ideias, viajar até o mais profundo do meu interior e resgatar experiências, reviver emoções, aprendizagens, dores e alegrias.

GAMOC! Não quero deixar esta experiência magnífica de observar e sentir 'Criador e Criaturas' para adentrar novamente no mundo comprometido e comportamental criado apenas pelos humanos, como se eles fossem os únicos donos desta natureza exuberante e monumental, que está aí pronta para quem souber usá-la, utilizá-la e desfrutá-la. Nela nós temos tudo! Mas é preciso saber olhar, escutar e sentir. Ela foi criada para ensinar o amor e a partilha, um laboratório para que os homens se percebam num TODO e para que se dotem de um sentimento de PERTENCIMENTO social e cultural. A percepção da natureza poderá ser a construção divinal e superior dos homens. Creio que a maturidade e por consequência a serenidade estão como resultado desta religação com todos os seres no universo.

Resisto, resisto mais um pouco, mas acabo cedendo aos registros criados pelo homem, que acabaram sendo fundamentais para criação da cultura, para união dos povos, para construção das sociedades, para expressão de sentimentos, para perpetuação da História e quem sabe poderão até contribuir com a própria libertação de todos os seres. Eu creio, creio muito, que o amadurecimento, através do conhecimento, fará com que os homens se religuem à natureza e compreendam que todos os seres têm sua importância e função magníficas e, o mais importante, que todos dependem uns dos outros, tanto sendo bióticos como abióticos, dotados de razão ou não. Viemos da mesma matéria, as relações que praticamos é que nos dotam disto ou daquilo. Prestemos atenção, portanto, no nosso agir, nas nossas práticas, na nossa intenção!

Mas, então, conheci esta técnica numa cadeira do Curso de Psicologia, da UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense, chamada Estrutura Social e Ecossistema, ministrada pela Professora Teresinha Maria Gonçalves, que, para minha alegria, é graduada em Serviço Social, e, quem me conhece sabe do meu amor por esta profissão, que tanto opera pela ampliação e consolidação da cidadania, através da educação pela conscientização.

A proposta da Professora Teresinha foi de que fôssemos para um local de natureza exuberante, no qual pudéssemos pôr em prática a Técnica GAMOC. Como temos o enorme privilégio de viver a 20 quilômetros do mar, estamos na capital do carvão, cidade de Criciúma/SC, escolhemos a Praia Morro dos Conventos, na cidade vizinha de Araranguá, a bela cidade das avenidas, onde realizamos nossa experiência.

Já ao chegar na cidade de Araranguá, a cor verde-esmeralda do rio de mesmo nome da cidade nos desperta muitas emoções, pois a beleza plástica é indescritível. Percorremos uma pequena estrada, que nos leva da cidade à praia. No caminho podemos ver pequenos morros, algumas dunas, plantações, criações, povoados, um grande parque aquático e de diversões, clubes, pousadas, enfim, o homem e a natureza interagindo. E penso, estará o homem sendo responsável nesta interação? Quem lhe permitiu adentrar numa duna, partindo-a ao meio, fazendo um caminho, e interferir de tal forma naquela formação natural de areia?

Alguns fenômenos me afetam profundamente, uma vez que a destruição e a interferência não planejada e estudada pelo homem, sempre serão em prejuízo de alguma outra espécie. Quem disse que as outras espécies não sentem e não sofrem? Cada espécie se organiza a seu modo, através de suas próprias relações e com os demais seres do planeta. Os signos de relação e comunicação são próprios de cada cultura, de cada sociedade, de cada grupo, de cada espécie. E é fundamental que todos sejam respeitados para o equilíbrio social e universal. Equilíbrio depende de consciência. Consciência depende de educação. Educação depende de afeto. E tudo isto de forma dialética.

Seguindo nossa viagem, chegamos a uma das mais belas praias brasileiras, denominada Morro dos Conventos. Contam alguns que tem este nome em virtude de suas falésias parecerem com conventos.

Nesta praia podemos ter contato com morros, falésias, cômoros somente de areia e outros com vegetação, pequenos lagos, rio, mar, muita vegetação e enorme variação de aves, além de podermos ver o encontro do rio com o mar.

Somente a visão do lugar, o quebrar das ondas do mar, o som dos ventos, o perfume da maresia, o som musical das aves, já nos faz pensar que a beleza do universo pode nos causar paz e serenidade, basta termos capacidade de introjetá-la e coragem para nos colocarmos como partícipe dentro dele.

Foi magnífica minha experiência com a Gamoc, técnica esta que nos ensina a observar e perceber fenômenos através dos sentidos, nos colocando de corpo inteiro na captação da realidade a ser pesquisada e observada. Que maravilha observar e se aperceber de algo através do aroma, por exemplo. É preciso que os homens se apropriem dos seus próprios sentidos, pois será através deles, e somente com eles, que poderão desbravar seu próprio mundo e o universo como um todo.

Pois bem, GAMOC é uma sigla que junta os animais: Gato, Águia, Morcego e Cachorro. A observação através desta técnica é feita com a postura atenta e perspicaz do Gato, com o olhar da Águia, com a audição do Morcego e com o faro do Cão. Os animais estão sempre ensinando, como também nos ensinam os demais seres da natureza, basta que estejamos abertos para perceber o outro e incorporá-lo as nossas relações e interações. Cada um dos seres do Universo tem sua função e importância ímpar para o equilíbrio e funcionamento saudável do todo.

Perceber os demais seres da natureza, através de todos os sentidos, é realmente captar a vida em sua plenitude, é permitir que todos se façam presentes, em sintonia, se apresentando a nós e propondo as relações e interações possíveis, a cada um, a cada par, a cada grupo, a cada espécie, entre espécies, entre iguais e entre os diferentes, compondo e construindo um equilíbrio universal de respeito, solidariedade e fraternidade entre os todos os seres que compõem os Ecossistemas Planetário e Universal.

Foi um grande prazer poder conhecê-la, Gamoc!

Foi um crescimento e tanto ser aluna da Professora Teresinha, obrigada! Seja muito feliz no seu próximo Pós-doutorado! Nos traga as novidades dos seus novos saberes. O seu prazer pelo conhecimento, me enebriou pelo conteúdo lecionado.

Foi muito bom e prazeroso conviver com esta turma de jovens tão comprometidos com aprendizagem. Foi um bálsamo em minha sempre esperança por um mundo melhor e para todos. Espero vê-los, em breve, transformando este mundo numa verdadeira fraternidade de todos os seres.

Quero registrar, também, que tive um encontro de empatia com a Mestranda Giselly Possamai, que, como eu, é advogada, nos percebendo desde o início pelo elo imenso e forte da advocacia.

Para me despedir, faço um pedido à UNESC, universidade que me surpreendeu positivamente por sua produção e por seu corpo docente especializado, competente e comprometido com a construção do conhecimento: sugiro, com a permissão dos meus 57 anos, que seja mantida esta cadeira de Estrutura Social e Ecossistema, no Curso de Psicologia, em virtude da mesma, no meu entender, ser a base para proporcionar e possibilitar uma melhor compreensão da vida, do homem, e das relações deste com os demais seres do Universo, objeto maior do estudo e da prestação de serviço como Psicólogo.

Despeço-me, afirmando à Professora Teresinha, à Mestranda Giselly e aos meus Colegas, que esta experiência acrescentou muito no mapa das minhas emoções, transformando-as para melhor e tornando-as mais maduras.

Muito obrigada a todos pela convivência, aprendizagem e trocas contínuas.

Abraço carinhoso e contem comigo para tantas outras experiências.

Carmen Pio

Aluna da Terceira Fase do Curso de Psicologia da UNESC

Criciúma/SC

abril/2015