Halley, oh Halley!
O ano era 86, e a expectativa em relação ao cometa de Halley era crescente, reluzente e muy caliente. Até passeios de avião Concorde se anunciavam para vê-lo mais de perto, sem os efeitos da poluição terrestre. Foi uma época de ouro para os fabricantes de lunetas e telescópios.
Sabia-se que o sucesso desse corpo celeste em sua última passagem havia sido algo fenomenal, feito um Ronaldo, em forma, e goleador mais letal. Obscurecia tudo à sua volta. Mas isso fora em 1910, e alguém poderia ter uma idéia de quem era o Presidente do Brasil? Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca?
Difícil, né? Mas o nome daquela estrela de rabo todo mundo sabia, porque pelas noites escuras sua reluzente presença se fazia: papa-ceia. Não confundir com papa-seios! Pois bem, mas o ano era 86. E à medida que as expectativas iam se tornando realidade, as notícias não eram boas. Eram pra lá da más.
O cometa parecia ter errado a rota. Só era perceptível por meio de potentes instrumentos eletrônicos e assim, olhe lá. Confundia-se facilmente com um Plutãozinho da vida, e da Via Láctea. E enquanto a garotada tomava seu lanche e se lamentava da sorte de sua geração em relação a esse ilustre mas arisco visitante - e garoto de então praticamente só falava por meio de teorema e equação, Cidinha, a doméstica ia lavando suas vasilhas, cuidando da cozinha, do passarinho e ainda dava um ouvido ao radinho - ainda não tinha o Ratinho.
E quando tudo parecia impossível à rapaziada, em matéria de registros, eis que Cidinha, toalha e prato à mão, se lhes dirige, compenetrada e judiciosa: É ocês pode não ter a sorte de vê esse cometa, mas dele eu bem sei, pois na noite passada eu o escutei.