SINGULAR NO PLURAL
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Vivemos no plural o que cada pessoa vive no singular. Diferenças entre homem e mulher, entre jovem e adulto, entre rico e pobre. Temperamentos tidos como incompatíveis. Culturas diferentes. Paisagens múltiplas. Cenários inacreditáveis. Cenas inimagináveis. Coisas vistas e ouvidas que vão sendo registradas, assimiladas na medida de cada pessoa que faz a própria medida de todas as coisas, no espaço e no tempo. Universo vem de “versus unum”. Que todos sejam um, na frase alentadora do Evangelho. Gêmeos podem ser muito parecidos, mas nunca são iguais. Temos a mesma natureza. Contudo, ninguém se repete. Canta Zé Ramalho: “Até na mesma mão os dedos não são iguais”.
Tenho um conceito próprio de místico, que, para mim, significa ser capaz de uma visão de conjunto num universo cosmopolita, sem fronteiras. Isto não quer dizer que a pessoa tenha necessariamente de viajar o mundo todo. Muito menos enclausurar-se no seu universo, pelo contrário. Mas que há um tipo de universo dentro de nós, isso há. E se o conceito de místico vem aureolado com a crença no sobrenatural, então temos os chamados místicos, cristãos, budistas e outros. A unidade do mundo é fruto de vida interior, de poesia, de musicalidade, de alma, de sonho... Além do horizonte, canta Roberto Carlos, deve ter algum lugar bonito pra viver em paz, onde eu possa encontrar a natureza, alegria e felicidade com certeza. Utopicamente, mundo se opõe a imundo. S. Paulo, misticamente solidário, lembra que, se um membro do corpo humano sofre, todos os membros padecem também; e todos os membros participam da ação daquele que se destaca.
Personagem místico do místico Guimarães Rosa, Riobaldo pondera: “O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.