DERRAME O LEITE,CHUTE O BALDE E SAIA DA CASINHA.

Outro dia amanheci triste,porque estava com muitas dores e o tratamento não permitia medicamentos por um tempo.

A dor física era tanta,que trouxe a tona,dores emocionais,cuja existência, desconhecia.

A gente usa o inconsciente justamente para isso,não é? Para não sentir dor. Entretanto,se não se vivencia as dores emocionais ,elas irradiam seus sintomas de outras formas,e a mais poderosa é a dor física.

Na realidade ela não existe como causa;é apenas um sintoma,que explode por não conseguir mais ser contido no estado inconsciente.

Como me conheci!!!!!

Vi o quanto distorci meu amor,em amores incertos...Quanto sofri por razões que não eram a causa verdadeira...Como deixei de me importar com o que valia a pena,direcionando meus interesses para distrações, apenas para não colocar o dedo na ferida,para não acordar a cicatriz.

Ah!como as dores da maturidade diferem das da juventude...Na juventude,chora - se por qualquer leite derramado; na maturidade sofre - se porque não se pode mais derramar o leite.

Sinto saudades,muita saudades daquilo que nunca fui,mas poderia ter sido;do que não aconteceu, mas deveria ter acontecido,das infinitas possibilidades que abandonei porque em cada caso,só cabe uma escolha.

Sei que vivemos muitas vidas em muitas existências,mas gostaria de ter vivido muitas existências apenas em uma vida.

Vivendo desta forma,nada seria deixado para trás enquanto de alguma forma não o consumíssemos até que o nada absoluto restasse.

Tudo seria levado a cabo até o final e depois apagado de nossa memória...

Deveríamos ter só vivências,jamais nostalgias;vivências sem lembranças,sem memórias,sem saudade...

A retidão deveria dar lugar a mais oportunidades;a moral a mais experiências e a realidade a mais amplidão .

Se hoje eu pudesse dar um bom conselho aos jovens,diria que derramassem muito leite,chutassem muitos baldes,enfiassem os pés em muitos penicos e os dedos em muitas tortas, que saíssem da casinha toda vez que sentissem vontade, e que no armário,nem entrassem,seja o que for que tivessem a esconder;mas que assumissem suas individualidades, suas loucuras,seu eu,sua filosofia e sua religião;que amassem e vivessem,até o osso.

E assim,quando desgastados pela idade,não sentissem que de alguma forma,foram consumidos,pela sociedade,pela moralidade,pelas tradições e pela tirania do que esperam que sejamos.

Que cada um seja apenas ele,de forma que vivendo todas as possibilidades,esteja sempre no momento presente.

Que o passado não seja uma lembrança e que o futuro não seja uma esperança. (eu)