E QUANDO AMANHECER

E QUANDO AMANHECER

Um dia o gosto se torna desgosto. A vida prega peças, nos derruba da cama, no meio dos sonhos. O tombo entristecido chora, sangra. A noite prolonga suas horas em tempos eternos, infindos, doídos. A angústia, que transborda das incertezas do amanhecer, fere a alma, dilacera os intuitos e os acertamentos, iludidos pelos descaminhos do achar.

Os pedaços cumpridos, nutridos, confundem-se com os convencimentos do fado. Destroços do sonhar, ingenuidade do porvir. Regalo precioso da crença, do desejo e da vontade. Caminhos do coração. Caminhos da distorção.

Perturbações inebriantes das noites frias e solitárias. Tormentas tramitantes, indecentes e insistentes. Peculato da lubricidade. Jogados ao relento, na lentura dos desabafos e medos. Rastros gastos.

Rastros bastos. A claridade encandeia a negritude da madrugada incerta. Os primeiros passos, capenga, tomam prumo. Seguem. Renovam às vontades e os desejos, as figuras mudam de formas. O coração renasce. As flores criam formas e cores.

Depois de varar madrugadas, o dia amanhece.

Flávia Arruda 09.05.2015