MEU AVÔ - UM CONTADOR DE ESTÓRIAS

A virtude de meu avô que eu mais admirava é que ele sabia contar estórias como ninguém. Sim, meu avô era um grande contador de estórias e nós éramos a sua platéia preferida.

Toda noite sentávamos na calçada de sua casa para ouvi-lo contar as aventuras de Camões e Pedro Malazarte. A noite ficava mais bonita... As estrelas brilhavam mais... As nuvens negras se dissipavam e a lua radiante refletia sobre nós a sua luz de prata.

Naquela época não tínhamos televisão. A energia elétrica ainda não tinha chegado ao Sítio Chã de Areia. Então ficávamos, um amontoado de meninos e meninas, netos e filhos de moradores, sob o alpendre de sua casa, sentados no chão em sua volta, para ouvir atenciosamente mais um capítulo do seu vasto repertório de estórias, causos e adivinhações. E quando ele começava a falar ficávamos de olhos arregalados e de orelhas em pé, encantados com cada palavra que saia de sua boca. Era como se ele se transformasse num capitão de um grande navio e nós fossemos a sua tripulação. Viajávamos com ele por oceanos distantes... Éramos crianças ansiosas por aventuras que despertassem a nossa imaginação e alimentassem os nossos sonhos.

Meu avô era um homem de pequena estatura, mas quando começava a contar estórias era como se ele crescesse! Crescesse tanto que nos envolvia com os seus gestos e suas emoções... Chorávamos quando ele chorava; sorríamos quando ele sorria! Ainda hoje guardo fragmentos de estórias ouvidas da boca de meu avô. Foi ele que, mesmo sem saber, despertou em mim o gosto pela literatura.