A REFORMA DA CASA DA FRENTE.

Tive dois grandes amores em minha vida.

O primeiro apareceu na idade em que aparece a vontade de amar e a curiosidade sobre o amor; e o descobrimos juntos.

Dói -me pensar que o teria feito muito feliz, não fosse minha sede de vida, própria da juventude, na distância de sua presença e a intervenção de pessoas que viam meus atos, repletos e intensos, como o são nessa fase, mas não conseguiam enxergar meu coração. Este amor eu tive de matar, matar rápido como tem que ser feito com tudo que representa uma ameaça, antes que eu mesma perecesse; e assim o fiz.Sufoquei-o e passei a ignorar pessoas com seus traços físicos,com medo que esta semelhança pudesse fazer ressurgir sentimentos que ressuscitassem em mim, a pessoa que não mais poderia ter.

O segundo me apareceu sorrindo e a sua alegria trouxe a tona, a minha alegria, sufocada no ato do meu primeiro crime. . Este foi um caso digno de um analista, pela complexidade do ser amado e pela minha imatura compreensão das pessoas.

Dói-me hoje, amparada pela maturidade, ver que tudo poderia ter sido diferente, se diferentemente tivéssemos agido, mas éramos ambos inteligentes demais para fingirmos não nos importar com as dores que causávamos um no outro e ignorantes demais para deliberadamente causá-las, crendo que isto nos faria superior. Este amor era tão forte, tão presente, que não consegui matá-lo, então o adormeci.Tomei-o em meus braços e o ninei carinhosamente, até que quando caiu em sono profundo,pude seguir minha vida; uma vida com muitas pessoas, muitas histórias, mas desprovida de tudo que realmente importasse, pois desfiz - me em pedaços, lutando contra o que em essência, era eu mesma.

Até que chegou alguém, de olhos meigos que submissamente, agachou - se sem permissão e foi recolhendo os retalhos de mim e sem autorização ou pudor, montou - me melhor, mais bonita,mais poderosa, mais autoconfiante e preenchida em todos os sentidos,pelo amor.

Esta pessoa escancarou sua alma, seus desejos, sua necessidade de mim e da mesma forma que me recriou, com o poder de Deusa que me delegou, quando em uma me transformou, eu o refiz a minha imagem e semelhança... (eu)