TEMPOS DE OUTRORA

Na última noite as palavras fluíram torrentes sobre um calhamaço de papéis em branco dispostos em minha escrivaninha. Com os olhos entreabertos, esforçava-me em ajustar a caligrafia a um tracejar retilíneo e pouco à pouco cada folha era preenchida com sentimentos diversos e por vezes contraditórios, no mais íntimo encontro com minha turbulenta essência literária. Lembrei-me dos tempos singulares que se passaram com grande saudosismo e de súbito algumas lágrimas orvalharam aquelas páginas. Como era bom divertir-se por horas à fio com outros de tão pueril idade em nossa rua! Corrida, pega-pega, esconde-esconde, barra-bola, jogo de bila, as quedas que me faziam ralar o joelho, o medo do mertiolate...os anos se passaram, amadurecemos por dentro e por fora e as alegrias não são mais as mesmas, nem mesmo as amizades. O apreço ao lúdico assumiu novos contornos e as razões de nossa felicidade não são mais as mesmas da infância e juventude, porém não deixamos de ir ao seu encontro e sempre descobrimos ao nosso tempo novas formas lúdicas de se encontrar com o EU que ainda há em algum lugar dentro de mim.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 09/05/2015
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