APENAS DOIS MINUTOS
APENAS DOIS MINUTOS
João Pessoa, 9 de maio de 2015.
Sentou-se, tentando entender o que ocorrera. Foi tudo tão rápido que não teve tempo nem de sequer racionar sobre tudo aquilo.
Era domingo e Juliana havia ido ao supermercado para fazer as compras da festa de comemoração pela cirurgia cardíaca bem-sucedida de seu Ernesto, pai dela. Todos estavam apreensivos um mês atrás, quando ele estava na sala de operações.
Quando se teve a notícia de que tudo havia corrido bem, o alívio foi generalizado. Todos ficaram tranquilizados: irmãos, irmãs, cunhados, cunhadas, genros, noras, filhos, filhas e netos. Depois que Dona Mariazinha tinha ido embora para o céu, como dizia Clarissa, o coração de seu Ernesto ficara fraco e debilitado, sentindo falta de sua companheira de mais de 40 anos de casamento.
Então, Juliana estava no supermercado e incumbiu a seu esposo a tarefa de ficar cuidando das crianças. Eram três filhos que o casal tinha, começando por Clarissa, a mais velha com seis anos, e passando por Joãozinho, o filho do meio com quatro, até a meiga, carinhosa e doce Mariana, de dois anos de idade.
Quando Juliana retornou com as últimas compras que faltavam para o churrasco de comemoração, os primeiros convidados já começavam a chegar. Havia mais parentes, pois a família era muito grande e, sozinha, fazia qualquer pequeno evento se transformar numa imensa e animada festa. A sorte é que eles se mudaram recentemente para essa casa maior, com uma piscina maior e um amplo espaço para festas, com bica e churrasqueira.
Preparados os últimos aperitivos, todos os convidados se faziam presentes, numa espiral de conversas paralelas que deixaria doido qualquer um que não fosse acostumado ao estilo da família.
“Seu” Ernesto, como era chamado por quase todos, estava sentado, alegre e satisfeito, como se fosse um rei, sendo cumprimento e reverenciado por todos que se aproximavam dele. Nos últimos meses, ninguém o tinha visto tão feliz. Mas era bom demais para ser verdade.
Repentinamente, seu Ernesto sentiu umas fortes pontadas no peito, como se seu coração fosse explodir. Começou a faltar-lhe ar, ficando tonto e sendo levado ao chão pelos circunstantes preocupados. Após dois minutos, ele recuperou o fôlego, conseguiu erguer-se e retomou seu assento, tomando um copo d’água que Juliana, preocupada, trouxera.
Foi a mesma Juliana que, ainda afetada pelo grande susto que seu pai dera, apercebeu-se da ausência de Mariana, que sempre ficava perto de alguém, dando ou recebendo carinho. Não é possível que em apenas dois minutos essa menina tenha ido longe, dizia Juliana.
Alarmando a todos, Juliana mobilizou uma busca pela pequena Mariana por todos os cômodos, cantos e móveis da casa. Todos estavam ajudando na procura, mas não conseguiam encontrar Mariana.
Quando, de repente, ouviram um grito de seu Ernesto que estava sentado no mesmo lugar, próximo à piscina. Ele apontava para uma boneca que boiava. Mas não era qualquer boneca. Era Princesa Barbie, a preferida de Mariana. E esta, linda e doce como sempre, estava no fundo da piscina, já sem vida, flutuando como um anjo indo embora para o céu.