DIA DOS NAMORADOS

Estava assistindo o programa do Mais Você é o psicólogo Flavio Gikovate deu uma entrevista falando de felicidade. Falou do medo que as pessoas sentem em ser felizes, por não se sentirem no direito, ou por medo de que algo ruim possa acontecer.

Antes de falar do lado sério da construção de um relacionamento, lembrei de uma das histórias que a minha visa contava. Como viviam em fazendas devia ser um celeiro fértil de histórias, além do que, as festas, os passeios à cidade, as reuniões em família eram verdadeiras celebrações.

Contava história de uma moça que todos os dias pela manhã via um rapaz muito bonito passar a cavalo pela porta da sua casa em direção da cidade e, se apaixonou por ele. De tanto ficar a espreita para vê-lo passar, sabia as horas em que ele iria para a cidade, que retornava. Tentava chamar sua atenção estando sempre na frente de casa todas as manhãs, mas parecia que não tinha jeito.

Resolveu por um fim a essa espera e pegou o Santo Antonio do oratório da mãe e largou o machado pra cima. Eu não sei por que, pois sempre soube que se colocava o Santo Antonio dentro de um copo com água, de cabeça para baixo. Quando a mãe viu o que ela estava fazendo, pegou um cipó, começou a dar-lhe umas boas cipoadas. Lógico, que isso aconteceu exatamente na hora em que o rapaz ia passando. Vendo a cena, ele apeou do cavalo, entrou no jardim e tentou impedir a surra; perguntou por que ela estava apanhando. Para surpresa da mãe e dele, ela contou que tinha feito isso porque fizera de tudo para chamar sua atenção, e feito uma promessa a Santo Antonio para casar com ele. Ao ouvir a história, ele disse que não precisava bater nela, que casava com ela.

Não sei se isso é um conto, ou aconteceu realmente, mas que até hoje, no dia de Santo Antonio, que virou dia dos namorados, fazem promessas. Na minha época de adolescente, ainda se faziam adivinhações; geralmente, as moças da minha rua que não tinham namorado se reuniam para conversar, as que tinham namorados, era um momento impar. Uma das adivinhações que fazíamos era colocar uma aliança amarrado com um fio de cabelo no meio do copo, e tantas vezes a aliança batesse nas bordas do copo, seria o tempo em que levaria para casar. A outra era jogar a faca na bananeira, a marca que se assemelhasse a uma letra, essa seria a letra do seu futuro marido, mas tinha que ser feito de dia.

Ah, tem muitas história! Eu era adolescente e fiz algumas, mas pra mim deu certo.

Mas, falando em coisas sérias, algumas perguntas sempre estão em voga, como por exemplo: o que é ser feliz? Como se pode medir felicidade? Como se renova a cada dia o tesão, o amor? Acho que viver.

O problema está na felicidade idealizada, do imaginário príncipe encantado que virá num cavalo branco, ou a princesa linda, suave, encantada. Viver é estar em uma mudança constante, esse é o mundo real. O romantismo não pode ultrapassar a realidade, nem a realidade substitui o lado afetivo, o desejo de dar e receber carinho e amor.

Amar e ser amado exige mais que uma casa impecável, com móveis bonitos, é mais que uma boa relação sexual, é mais que convivência. Ela é uma construção a dois. É um somatório de coisas importantes, amor, amizade, vida sexual, companheirismo, diferenças e semelhanças. Às vezes, mais diferenças que semelhanças.

O medo de ser feliz, pois amar também tem lá seus desgastes, e às vezes o medo da entrega é algo que pode paralisar o indivíduo e, assim perde-se a oportunidade de uma vida rica, cheia, que inclue altos e baixos, mas esse estar junto possibilita o amadurecimento do casal.

Aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a amar cada dia quando a beleza física foi substituída por algumas interrogações da vida, que chegam sem pedir licença. Re-aprender cada dia, nas mudanças de humor, quando as doenças chegam, quando a velhice chega, quando os filhos voam para construir seus ninhos e suas vidas. Continuar a aprender a amar e ser inventivo o suficiente para não cair na mesmice, e deixar a rotina esmorecer, e se entregar ao ostracismo, à desatenção, ao descaso, ao desleixo.

Amar o outro é saber amar-se incondicionalmente, pois evidenciará ao outro a visão de que você, eu, nós somos seres inteiros, ativos, vivos e que estar junto vale a pena.

Recife: 12.06.07