014 I Love – O dia depois da tempestade

Acordei em uma sala cheia de moças enroladas em edredons. O reservado da noiva estava abarrotado de vestidos de madrinha e sapatos de todos os modelos e tamanhos e cores.

Dormimos, eu as madrinhas e as irmãs da noiva espalhadas no carpete e nos sofás do quarto reservado para as noivas trocarem de roupa depois da cerimônia civil. Era um mar de mulheres cheirando a uísque e laquê!

A primeira ação dói pegar o celular e olhar as horas. Havia quarenta e sete chamadas de um único número que eu conheço tão bem. Depois de discar tantas vezes ele deve ter dormido de cara com a garrafa de uísque.

Então e só então comecei a lembrar da noite passada quando, já de madrugada ele conseguiu entrar na festa com a ajuda do irmão do noivo e veio logo me inquirir sobre tê-lo deixado do lado de fora.

Bem o que posso dizer!? Eu havia chegado onze horas na festa. Tomei todos os drinques coloridos que as madrinhas tomaram e na sexagésima dose já havia contado para elas tudo o que havia acontecido desde o momento que eu abri a gaveta da agenda até a cena do sofá quando ele mentiu descaradamente sobre tudo e eu o coloquei para fora.

Elas me adotaram então bebemos juntas dançamos juntas e desabafamos sobre estes caras, lindos e safados que nos fazem chorar de madrugada. E assim juntas nos embebedamos até que ele chegou todo sóbrio e cínico.

Nem precisei abrir boca, Elsa a madrinha mais rica jogou toda a história na cara dele. Ficamos eu e as madrinhas lá sentadas mudas enquanto ela falou num único lance tudo o que havia contado até, inclusive, a invasão da privacidade de olhar sua agenda de compromissos.

Ele passou então de indignado por ficar fora da festa para envergonhado por mentir para a namorada e por fim desmascarado, momento no qual ele deixou a mesa e foi sentar do outro lado do salão com o irmão do noivo.

Nós dançamos a noite inteira juntas e às seis da manhã, fomos para o reservado onde elas trancaram a portas e esconderam as chaves. Achavam que talvez eu pudesse ter uma recaída e ir atrás do meliante. Algo muito fácil de acontecer quando estamos bravas, enganadas e de piléquinho. Deve ser por coisas assim que todos os homens dizem que não entendem a mulheres e todas as mulheres definitivamente, não conseguem também entender a si mesmas.

Enfim levantei para tomar um banho e dei de cara com uma banheira enorme e cheiinha de espuma com uma garrafa linda cheiinha de espumante ao lado, é claro que o Buffet imaginou que os noivos tivessem dormido no reservado e além daquela havia mais três garrafas! Nessa hora resolvi recitar meu mantra: Se não dá para fazer o que eu quero fazer agora é melhor fazer o dá.

No meio da espuma vi uma a uma as madrinhas acordarem e entrarem também na banheira onde passamos a tarde bebendo a bebida dos deuses e é claro, falando mal dos perigosos e indecifráveis seres que se denominam homens.

Hoje penso se não estava só adiando a volta para casa, para o campo de batalha que se tornou a minha sala de estar.

#tudolindailusão

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Saibam amados leitores que se ela continuava com o coração dolorido, a pele, com certeza não tinha sinal que denunciasse nada disso. Era um pêssego doce e macio no final da tarde!

Tania Gauto

04-05-2015