Entre a Memória e a História, Desterro.
O dorso da elevação – uma crista da serraria – é percorrido por uma trilha. Pode-se ver com a imaginação observando sua extensão.
O olhar passeia por esta crista ininterruptamente... Excetuando quando a vista se depara com a frondosa e majestosa árvore. Por esta elevação e sua extensão muito alta serem desprovidas de qualquer vegetação que não seja capim para pastorear, aquela árvore chama a atenção de qualquer um, até dos mais desatentos.
Uma figueira com certeza! Sua copa se abre toda circular convidando a qualquer um se abrigar sob a proteção de suas ramagens. Por ser tão esplendorosa ela suscita especulações: Por que, sendo tão diferente da vegetação próxima, ela se encontra ali? Percebe-se que ela fora plantada intencionalmente. Por quem? A especulação gerou mito e lenda. Atrás da oralidade, um processo histórico que sempre ocorre.
***
Eu era menino e nas férias íamos para a fazenda Cruzeiro cuidada pelos meus tios. Um morava na sede e outro logo após o engenho que produzia cachaça, melaço e rapadura. A propriedade havia sido estabelecida pelo meu avô Velão. Ele havia fincado uma enorme cruz onde se rezava missa ocasionalmente e que se tornou o emblema de sua unidade produtora: Fazenda Cruzeiro.
Após a morte do patriarca a fazenda passou a ser cuidada pelos meus tios. Meus primos, à medida que se casavam, construíram casas nas imediações. Nas férias ficávamos na sede e visitávamos os parentes casados. No caminho da sede até a casa de um dos primos avistava-se o cume daquela elevação, a suposta trilha e a árvore.
Nesta passagem é que se dava a oralidade do mito e lenda. Os mais velhos querendo dar veracidade ao caso e se eximir do compromisso do relato explicava a existência da árvore começando sempre com a mesma introdução “Os antigos diziam que...” e assim discorriam o caso:
“Houve um homem que encontrou muito ouro. Para não ser roubado ele enterrou o tesouro ali e plantou aquela figueira. Todo mundo que for lá tentar desenterrar o ouro o fantasma aparece e arremessa longe quem viola o seu esconderijo.”
Esta lenda era rezada nas idas e nas voltas do passeio que se realizava entre a sede e as demais moradias da propriedade de tal maneira que isto ficou impregnado em minha memória. Primeiro por assombrar minha imaginação infantil e fértil e depois por despertar minha curiosidade histórica dos “causos” que se conta no “Caminho do Ouro”.
Como toda fumaça pressupõe um fogo esta lenda ganhou maior interesse por mim quando adulto eu fiquei sabendo que a região de Desterro do Melo foi área para onde um português de sobrenome Melo fora desterrado ou que se exilou voluntariamente e que a região também fora área onde bandeirantes tiveram interesse como região mineradora.
***
Ao ler o livro “De Volta à Estrada Real” de Flávio Leão vi que ele registra o fato que no caminho do ouro os tropeiros que iam e vinham plantavam figueiras e gameleiras para que elas dessem sombra e pouso aos viajantes cansados.
A existência daquela figueira que ainda existe na atual “Comunidade do Velão”, a menção dos hábitos dos tropeiros em plantar árvores nos seus caminhos percorridos entre o porto e a região das minas e a história do município de Desterro do Melo confirmam que atrás de toda oralidade – lendas, mitos e ditos – há uma história, uma produção humana, a ser resgistrada e contada por fazer parte da memória de todos.
O dorso da elevação – uma crista da serraria – é percorrido por uma trilha. Pode-se ver com a imaginação observando sua extensão.
O olhar passeia por esta crista ininterruptamente... Excetuando quando a vista se depara com a frondosa e majestosa árvore. Por esta elevação e sua extensão muito alta serem desprovidas de qualquer vegetação que não seja capim para pastorear, aquela árvore chama a atenção de qualquer um, até dos mais desatentos.
Uma figueira com certeza! Sua copa se abre toda circular convidando a qualquer um se abrigar sob a proteção de suas ramagens. Por ser tão esplendorosa ela suscita especulações: Por que, sendo tão diferente da vegetação próxima, ela se encontra ali? Percebe-se que ela fora plantada intencionalmente. Por quem? A especulação gerou mito e lenda. Atrás da oralidade, um processo histórico que sempre ocorre.
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Eu era menino e nas férias íamos para a fazenda Cruzeiro cuidada pelos meus tios. Um morava na sede e outro logo após o engenho que produzia cachaça, melaço e rapadura. A propriedade havia sido estabelecida pelo meu avô Velão. Ele havia fincado uma enorme cruz onde se rezava missa ocasionalmente e que se tornou o emblema de sua unidade produtora: Fazenda Cruzeiro.
Após a morte do patriarca a fazenda passou a ser cuidada pelos meus tios. Meus primos, à medida que se casavam, construíram casas nas imediações. Nas férias ficávamos na sede e visitávamos os parentes casados. No caminho da sede até a casa de um dos primos avistava-se o cume daquela elevação, a suposta trilha e a árvore.
Nesta passagem é que se dava a oralidade do mito e lenda. Os mais velhos querendo dar veracidade ao caso e se eximir do compromisso do relato explicava a existência da árvore começando sempre com a mesma introdução “Os antigos diziam que...” e assim discorriam o caso:
“Houve um homem que encontrou muito ouro. Para não ser roubado ele enterrou o tesouro ali e plantou aquela figueira. Todo mundo que for lá tentar desenterrar o ouro o fantasma aparece e arremessa longe quem viola o seu esconderijo.”
Esta lenda era rezada nas idas e nas voltas do passeio que se realizava entre a sede e as demais moradias da propriedade de tal maneira que isto ficou impregnado em minha memória. Primeiro por assombrar minha imaginação infantil e fértil e depois por despertar minha curiosidade histórica dos “causos” que se conta no “Caminho do Ouro”.
Como toda fumaça pressupõe um fogo esta lenda ganhou maior interesse por mim quando adulto eu fiquei sabendo que a região de Desterro do Melo foi área para onde um português de sobrenome Melo fora desterrado ou que se exilou voluntariamente e que a região também fora área onde bandeirantes tiveram interesse como região mineradora.
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Ao ler o livro “De Volta à Estrada Real” de Flávio Leão vi que ele registra o fato que no caminho do ouro os tropeiros que iam e vinham plantavam figueiras e gameleiras para que elas dessem sombra e pouso aos viajantes cansados.
A existência daquela figueira que ainda existe na atual “Comunidade do Velão”, a menção dos hábitos dos tropeiros em plantar árvores nos seus caminhos percorridos entre o porto e a região das minas e a história do município de Desterro do Melo confirmam que atrás de toda oralidade – lendas, mitos e ditos – há uma história, uma produção humana, a ser resgistrada e contada por fazer parte da memória de todos.
Leonardo Lisbôa
06/04/2015.
Para saber mais sobre o município: http://www.desterrodomelo.mg.gov.br/pagina.php?idpag=29)