Repertório doméstico - excertos

O cabide grosso - marronzão, com contorno de pescoço e

ombros, além da trava na base, para se pendurar

calças, servia pra pendurar o capote pesado ou algum

terno de papai. Feito de madeira compacta, sólida,

diferenciava-se de todos os demais cabides, de e sem

emprego. Vendo o filme Mommie Dearest - sobre o que a

filha adotiva de Joan Crawford (não seria mais

apropriado Crowford?) sentia pela mãe, deo gratias de

não termos nunca levado uma coça (ou tunda, na

linguagem de Dona Leta de Baptista) com aquele sacro

cabide. No máximo, eram as solas de chinela que se

chulapavam sobre nossos glúteos.

O berço - acho que o mais recente foi feito pelo Ze

Martinho de Freitas, ou quem sabe, o Norberto e deve

ter sido inaugurado pela Cidinha, ou antes, pelo Joe.

Madeira amarelada, já não me lembra se suas laterais

eram compostas de grade, feito balaústres de um

peitoral de adro de igreja.

Partilera antiga - Fininha, tamanho razoável, umas

quatro ou cinco prateleiras, fundo fechado, pintada de

verde claro, óleo é claro, deu lugar, após à mudança

para Pitangui à grande e menos charmosa e mais

imponente prateleirazulpoente.

A cantoneira - já conheceu seus dias de glória quando

serviu de suporte ao rádio Philips, aquele caixote

falante e por capricho, ou falta de boa antena,

estridente de dar pena. Contudo, era bem menos ruidoso

do que o rádio de tia Lia que só pegava a

Radiaparicida e nem a voz de Padre Garvão dava jeito

naquele tumulto. A cantoneira já fora também suporte à

talha d'agua, tanto a monobloco quanto a de filtro,

composta de duas parte, mas perdeu esse requinte na

mudanca pras Pitangas, quando substituída por

cantoneira lapidar chumbada na parede, sem as

inconveniências daquelas pernocas de fora...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/05/2015
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